Estátua de D. Pedro I
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A estátua equestre de Dom Pedro I, localizada no coração do centro da cidade, na Praça Tiradentes, é um dos monumentos mais emblemáticos do Rio de Janeiro. Desde sua inauguração, em 1862, a estátua se tornou um marco de importância histórica e cultural, celebrando o proclamador da independência do Brasil e primeiro Imperador do país.
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Estátua logo após a inauguração, em 1862, antes da instalação da grade ao redor. Manoel Banchieri. Biblioteca Nacional.
A expectativa era que a estátua fosse inaugurada no dia 25 de março de 1862, aniversário da ratificação da Constituição brasileira — outorgada pelo próprio D. Pedro I, 38 anos antes. Contudo, uma forte chuva adiou a inauguração para o dia 30 do mesmo mês, com direito a uma grande festa cívica. Afinal, tratava-se da primeira escultura pública do país. O grande envolvimento popular indica, ainda, a importância simbólica de D. Pedro I para os brasileiros naquele período.
A inauguração foi marcada, ainda, por uma das primeiras aplicações descontínuas de eletricidade na cidade. A estátua foi iluminada por um feixe de luz elétrica emitido de uma janela do Teatro São Pedro — atual Teatro João Caetano, situado ao lado da praça. A eletricidade foi provida por um boticário da Rua da Assembleia, embora o método exato utilizado permaneça desconhecido.
Durante o século XIX, a praça onde a estátua está era um ponto de encontro para intelectuais, políticos e a população em geral, servindo de palco para eventos e manifestações públicas.. O intenso movimento de pessoas dava vida ao local, misturando comerciantes, militares e vendedores ambulantes que passaram a se reunir ao redor da estátua.
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Praça da Constituição, atual praça Tiradentes, destaque para a estátua equestre de Pedro I. Augusto Stahl. c. 1865. Rio de Janeiro, RJ. Instituto Moreira Salles.
A atual praça Tiradentes já foi chamada de Campo dos Ciganos, Largo do Rocio e, no momento em que o monumento foi construído, Praça da Constituição. A escolha do local para abrigar a estátua de D. Pedro I não foi aleatória: o espaço sempre teve um papel central na vida pública e política da cidade, sendo palco de eventos cívicos e desfiles militares. Com o passar dos anos, a Praça Tiradentes passou por várias transformações urbanísticas, mas a estátua permanece como um elemento central e um símbolo de continuidade histórica.
Estátua após a instalação da grade ao redor. Marc Ferrez. Instituto Moreira Salles.
O monumento foi idealizado pelo artista plástico brasileiro João Maximiano Mafra (1823-1908) e executado pelo escultor francês Louis Rochet (1813-1878). Mafra, então secretário da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA), havia sido o primeiro colocado no concurso realizado pela Academia para eleger o projeto vencedor para a estátua. Rochet foi o terceiro colocado.
Dom Pedro I foi retratado vestindo um uniforme militar, montado em um imponente cavalo, segurando na mão direita a Constituição de 1824, símbolo de seu peso e controle na construção do Estado brasileiro. Rochet, reconhecido por suas obras de caráter histórico e realista, produziu a escultura em Paris e destacou a figura do Imperador com uma expressão de imponência. A estátua é feita de bronze e está posicionada sobre um pedestal de pedra gnaisse — material utilizado em diversos outros monumentos da cidade.
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Estátua equestre de Dom Pedro I. Micheles 1861. Paris, França. Acervo FBN. Brasiliana Fotográfica.
No gradil, feito de ferro fundido, foram gravadas as datas mais importantes de sua vida privada e política: 12 de outubro de 1798 (nascimento); 6 de novembro de 1817 (casamento com dona Leopoldina); 9 de janeiro de 1822 (Dia do Fico); 13 de maio de 1822 (nomeado Defensor Perpétuo do Brasil); 12 de outubro de 1822 (aclamação como Imperador do Brasil); 1 de dezembro de 1822 (coroação); 25 de março de 1824 (ratificação da primeira Constituição brasileira) e 17 de outubro de 1829 (casamento com dona Amélia).
Tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural desde de 1978, a estátua foi o primeiro monumento a ser erguido em homenagem a uma figura política, criando um precedente para a criação de outros monumentos semelhantes em todo o território nacional.
Em torno do pedestal da estátua, indígenas, animais selvagens e plantas nativas simbolizam quatro rios brasileiros (Amazonas, Paraná, Madeira e São Francisco), representando a riqueza e a diversidade do território nacional. As alegorias aparecem como símbolos de uma narrativa de unidade e integração territorial, buscando reafirmar o papel de D. Pedro como o responsável por assegurar a unidade territorial do país.
A representação dos indígenas reflete, nesse sentido, uma visão idealizada do Brasil muito difundida pelo romantismo indianista durante o século XIX. As figuras dos indígenas, retratadas de forma estereotipada e romantizada, evocam o conceito do “bom selvagem”, uma ideia que permeava o imaginário europeu desde o período colonial e que era frequentemente utilizada para justificar a dominação e a civilização dos povos originários. Sob este aspecto, o monumento valoriza a figura de Dom Pedro I, relegando os indígenas ao papel de coadjuvantes na construção da nação, ignorando a violência e a marginalização a que foram submetidos durante todo o processo de colonização. Não por acaso, são retratados aos pés de D. Pedro do alto de seu cavalo.
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Estela Neto, Wikimedia Commons.
A Estátua de Dom Pedro I continua sendo um ponto de referência no centro do Rio de Janeiro. Embora a praça não seja mais o epicentro das atividades políticas e sociais da cidade, sua presença imponente causa um impacto na cena pública e convida os transeuntes a refletirem sobre a imagem de D. Pedro I e do período imperial do Brasil. Assim, há uma disputa de memória em torno do monumento e a maneira como ele alimenta (ou não) o imaginário histórico da população.
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