As mulheres da Nova Holanda e a Chapa Rosa

Na virada da década de 1970 para 1980, as mulheres protagonizaram um dos movimentos comunitários mais intensos da Maré. Em pleno processo de redemocratização, quando as associações de moradores das favelas do Rio estavam sob forte controle estatal, fruto da Ditadura Militar ainda em vigor, a Nova Holanda viu florescer um movimento comunitário com forte presença feminina, elegendo uma das primeiras mulheres como presidente de associação de moradores, através da Chapa Rosa.

Campanha da Chapa Rosa para Associação de Moradores da Nova Holanda, 1984. Acervo Pessoal/Edson Diniz

Isso se deu a partir de uma ação de educação para a saúde comunitária, desenvolvida pela Fiocruz com grupos locais na Nova Holanda que, em sua  maioria, eram compostos por mulheres como, por exemplo, Maria Amélia Belfort, uma mãe que travou a luta pelo abastecimento de água, creches, esgoto etc. O cuidado com a família levou Maria Amélia e outras mulheres a terem força para lutarem não apenas por si, mas pelos direitos de seus filhos, negados de diversas formas.

Eliana Sousa e Silva, então uma jovem estudante ligada à Igreja Católica, através do trabalho com a Fiocruz de rua em rua, de casa em casa, adquiriu conhecimento da realidade local e quais eram as melhorias que os moradores da Nova Holanda desejavam. Ela conta como se deu o processo de disputa pela Associação de Moradores da Nova Holanda, na época tutelada pelo Estado, tanto através de decretos como por pressões para que o presidente fosse alguém simpático ao governo:

A gente começou a trabalhar essa perspectiva de como a gente podia constituir a associação de moradores. Então, neste trabalho porta a porta, a gente reproduziu essa ideia de construir a associação de moradores. E aí a gente juntou um grupo de umas 30 pessoas para discutir se a gente realmente queria ir pra associação. E começamos um trabalho, de um ano discutindo. Por que a associação é importante? Que luta a gente vai empreender? O trabalho do postinho já estava indo embora, porque era um projeto da Fiocruz. ( …) o fato da gente ter tido essa escola, de aprender e ir atrás, a gente começa a discutir e começa a fazer um trabalho que foi muito bonito, que foi interno, que juntava o bloco, o grupo de mulheres, a igreja, esse grupo de pessoas jovens, ali do posto. E a gente falou: “vamos concorrer! E como vai ser essa chapa?” Quando a gente viu, a maioria era mulher. “Vai ser chapa Rosa!”.

Com mais de 1800 votos – quase 5 vezes mais que a chapa da situação – a Chapa Rosa, com Eliana como presidente, assumiu a gestão da Associação da Nova Holanda. Tirar a associação do controle do Estado e do imobilismo que marcava a gestão de então foi essencial para que os moradores da Nova Holanda pudessem reivindicar melhorias para a favela, em meio às transformações que o Brasil e a cidade do Rio viviam. A Chapa Rosa contribuiu não apenas para a qualidade de vida dos moradores, mas também para os esforços da sociedade brasileira em pôr fim à Ditadura Militar.

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