Dona Orosina, uma maré feminina

“Mulher de favela” é um termo que carrega muitos sentidos, e a face feminina da construção da Maré é o sentido mobilizado nesta sala. É comum em muitas favelas, que as lutas pela moradia, pela criação dos filhos, pelo espaço, sejam protagonizadas por mulheres, embora muitas vezes elas tenham sido desconsideradas nas narrativas produzidas sobre essas lutas.

A começar por Dona Orosina: mulher negra, migrante de Minas Gerais, que teria erguido um dos primeiros barracos no território e se tornou uma espécie de ‘marco zero’ para as favelas da área, figurando na narrativa dos ‘mareenses’ como a primeira moradora da Maré na década de 1940 (quando o território passou a ser compreendido como uma favela). 

Dona Orosina, s/d. Acervo Museu da Maré

Apesar de registros de ocupação do território em épocas anteriores à sua chegada, Dona Orosina teria entrado para a crônica local como a primeira ‘favelada’, pela característica da ocupação. A data coincide com um processo que ocorria em escala mais ampla, quando a imprensa, autoridades e parte da sociedade passaram a olhar com preocupação para a ocupação de morros, praias e margens de rios e lagoas pela população pobre, formando as ‘favelas’, atribuindo aos moradores a culpa pela falta de um sistema de transporte público adequado ou dos baixos salários que faziam com que recorressem ao improviso da habitação. 

Segundo a crônica local, Dona Orosina teria se mudado do centro da cidade por conta da saúde do marido, que necessitava de um ambiente mais arejado. O território da Maré, na década de 1940, com seu litoral de águas limpas e ilhas arborizadas,  oferecia brisa fresca e ar puro. Assim, Dona Orosina e o marido ergueram um barraco no Morro do Timbau e enfrentaram os militares dos quartéis ao redor que, ora queriam expulsá-las, ora queriam cobrar taxas. Dona Orosina escreveu ao então presidente Getúlio Vargas pedindo ajuda, no que foi atendida por ele que teria ordenado a suspensão das cobranças. Se a história não é verídica (não sabemos), é verossímil. Vargas de fato estabeleceu boas relações com muitos moradores de favela, como o Jacarezinho e a extinta Praia do Pinto, no Leblon.

Falecida em 1994, já centenária, Dona Orosina deixou raízes na Maré: alguns moradores têm lembranças do carinho que ela dispensava às crianças que eram levadas pelas mães para serem rezadas por ela. Além da memória afetiva, a representação de Dona Orosina como primeira moradora da Maré tem base nas lembranças de sua persistência na luta pela conquista de um lugar para morar e permanecer.

Dona Orosina Vieira representada em mural na rua Praia de Inhaúma, Baixa do Sapateio. Obra de Cazé Arte. Acervo MIIM

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