Arte e política: a cultura popular e a popularização da arte

Em 1961 são fundados pelo país os Centros Populares de Cultura da UNE. O primeiro deles, na cidade do Rio de Janeiro, surgiu a partir da montagem de uma peça de Oduvaldo Viana Filho (Vianinha) e de Chico de Assis. Ambos, atores e dramaturgos criados pela experiência do Teatro de Arena de São Paulo, escreviam no Rio a peça de teatro A mais-valia vai acabar, seu Edgar, que foi encenada na Praia Vermelha, no antigo prédio do curso de Arquitetura da atual UFRJ. O núcleo de artistas, estudantes e público em geral que se mobilizou ao redor da peça foi o embrião do CPC, abrigado naquele mesmo ano no prédio da UNE, localizado na Praia do Flamengo. 

Rogério Duarte, design gráfico da Revista Movimento, 1962. Fonte: Arte Brasileiros

Através de suas práticas e eventos, o CPC criou uma atmosfera colaborativa entre artistas de diferentes áreas. Apesar das artes visuais serem vistas como menos importante do que o teatro e o cinema, o pensamento político que perpassava seus encontros e ações contribuiu para que a hegemonia do abstracionismo geométrico da década anterior fosse deslocada para novos temas. De mais representativo no âmbito gráfico dentro da experiência do CPC carioca foi o trabalho do designer, filósofo e poeta baiano Rogério Duarte, responsável por pôsteres e pela revista Movimento, referência na época com sua diagramação inovadora. A ideia de uma arte “popular e revolucionária” foi lida de diferentes formas pelos artistas do período, mas a ideia de fazer da criação estética um olhar sobre a realidade social do país deu o tom geral. 

Artistas historicamente ligados ao Partido Comunista, como Carlos Scliar, colaboram com o CPC e com outras ações que visavam popularizar o acesso às artes visuais. Vindo das experiências dos clubes de gravura na década anterior, Scliar era um dos que buscavam formas de ampliar a participação do público. Em 1967, por exemplo, ele coordenou um projeto que comercializou por preços acessíveis, a qualquer comprador, um conjunto de cinco serigrafias impressas por Dionísio Del Santo, com trabalhos do próprio Scliar, além de Carlos Vergara, Rubens Gerchman Anna Letycia, Glauco Rodrigues, Claudio Tozzi e Anna Maria Maiolino. 

As mudanças políticas na arte não se restringiam ao contexto brasileiro e uma série de exposições internacionais ocorridas no MAM traziam para a cidade e seus artistas as novas figurações argentinas e francesas, de forte tendência expressionista no uso de cores quentes que tematizavam conflitos sociais e criticavam a ordem social vigente. Nomes que surgiriam com força na década de 1960 – como Rubens Gerchman, Antonio Dias ou Carlos Vergara – dialogaram diretamente com essas novas bases de criação e ação. 

Rubens Gerchman, “Flamengo Campeão”, 1965. Fonte: Instituto Rubens Gerchman.

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