Praça Onze
“Eu vi morrer a Praça Onze,
Eu vi tudo isto sem reclamar.
Mas, felizmente, ficou o samba
Ficou o samba, ninguém pode acabar,
Pois nele existe uma lembrança singela
Da Praça Onze, da Lapa e da Favela”
Trecho de “O Samba não morre”
de Marino Pinto e Arlindo Marques Jr.
Nas primeiras décadas do século XX, a Praça Onze consolidou-se como um dos epicentros multiculturais do Rio de Janeiro pós-abolição. No coração da região conhecida como “Pequena África”, vivia uma população diversa, com destaque para a comunidade negra, majoritariamente da Bahia.
Nesse ambiente vibrante, as tias baianas — muitas delas ialorixás — tornaram-se lideranças comunitárias essenciais. De suas casas, nasciam espaços de resistência e criação, onde a herança africana era ressignificada por meio da religiosidade, da música e da festa.
O samba urbano carioca floresceu diretamente dessas redes de sociabilidade. A casa de Tia Ciata, na Rua Visconde de Itaúna, tornou-se o ponto de encontro de músicos como Pixinguinha, Donga, Heitor dos Prazeres e Sinhô. Ali, ritmos africanos, lundus cariocas e outras influências se fundiram. Foi nesse quintal que, em 1916, nasceu Pelo Telefone, considerada a primeira música de samba registrada em disco no Brasil.
A Praça Onze também foi o berço dos desfiles das escolas de samba. Após a criação da Deixa Falar em 1928, o jornalista Mário Filho organizou, em 1932, o primeiro desfile competitivo no local. Durante uma década, a praça foi o centro do carnaval carioca, consolidando as escolas como uma das instituições culturais mais fortes da cidade.
Essa vitalidade foi abruptamente interrompida na década de 1940. A demolição da Praça Onze, entre 1941 e 1942, para a abertura da Avenida Presidente Vargas, não foi apenas um projeto urbanístico, mas também parte de um processo de apagamento da história afro-brasileira. Ao todo, 525 prédios foram demolidos, desalojando centenas de famílias e desestruturando uma das regiões mais simbólicas da cultura negra no Rio.
Ainda assim, a memória da Praça Onze permanece viva — presente no imaginário carioca, no Sambódromo erguido nas proximidades e, sobretudo, na força do samba, que ecoa como herança indelével desse território.
Praça Onze.

