Para fazer a energia elétrica chegar ao seu destino – indústrias e outros empreendimentos que precisavam de ‘força’, além de edifícios residenciais ou de prestação de serviços, que demandavam a ‘luz’, daí a denominação ‘força e luz’ – fez-se necessário um investimento considerável na instalação de extensa rede por toda a cidade. A distribuição da energia elétrica a partir da estação Frei Caneca era feita através de uma rede subterrânea, na área central da cidade – que vinha sendo submetida a um acentuado processo de modernização – e através de uma extensa rede aérea, para as zonas Sul e Norte. Estes postes transportavam a energia de alta e baixa tensão e também os cabos de telefone, outro serviço trazido pela Light ao Rio de Janeiro e que será abordado mais à frente, em outra sala desta exposição. O acesso à energia elétrica causou uma das maiores revoluções da civilização e uma radical mudança de hábitos e costumes; surgiram incontáveis novidades. Na fotografia, impressiona a quantidade de homens empregados na colocação de um poste de concreto.
A fotografia de 1908, provavelmente feita por E. A. Mortimer, que prestou serviços à Light no início do século XX, recebeu um acréscimo textual em inglês junto aos postes e cabos – esclarecedor das funções de cada um dos elementos. Vê-se o cabeamento das redes de alta e baixa tensão, fusíveis e transformadores, o cabo de alimentação dos bondes, cabos e fios telefônicos. Esses postes serviam apenas para suportar os cabos; para a iluminação, vê-se um singelo poste, próximo àquele que sustenta o transformador. Ao fundo da imagem e à direita, a pedra da Babilônia e no canto esquerdo, bem ao fundo está a pedra do Grajaú.
Na fotografia tirada na rua Amaro Cavalcanti, no sentido Todos os Santos, vê-se a utilização de um mesmo poste para suportar cabos de eletricidade diversos, além da luminária. Os postes da telefonia seguem em paralelo, mais à esquerda, do outro lado da linha do trem (que não se vê na imagem). Ao fundo, vê-se a basílica Imaculado Coração de Maria.
Na fotografia de 1923, de uma importante via de Bangu [a atual avenida de Santa Cruz, talvez], observamos os postes para cabos de alta tensão e fios nos dois lados do percurso, mas não vemos qualquer luminária. A iluminação pública demorou a chegar às localidades mais distantes do centro da cidade, na zona norte. Não há qualquer sinal de trilhos de bondes tampouco, nesta via. Mas ao atentarmos para o solo pouco à frente do poste maior, observamos que um trilho (de bonde a burro, com certeza) cruza a via e atravessa o portão instalado ao meio do extenso muro, no lado esquerdo da imagem. E ali dentro há iluminação; podermos ver os postes com lâmpadas.
Certas operações da Light atraíam os pedestres, que desconheciam aquelas ‘geringonças’ utilizadas para construir as câmaras subterrâneas onde os grandes transformadores eram instalados. No momento da fotografia, o buraco estava sendo cavado e a terra, despejada em carroça posicionada ao lado do guindaste.
Aqui, uma câmara subterrânea na avenida Central, atual Rio Branco. Vale observar o alinhado funcionário ao fundo, que posa para o fotógrafo.
Nem a chuva impedia os curiosos de acompanhar a instalação de um transformador em um dos subterrâneos do centro da cidade. Enquanto os operários da Light se concentravam na pesada operação que envolvia, ainda, boa dose de precisão, muitos passantes se protegiam sob seus guarda-chuvas e seguiam acompanhando com evidente interesse. Nesta fotografia, tirada na rua Treze de Maio, vê-se ao fundo, à esquerda, o célebre edifício que sediou por muitas décadas o Cordão do Bola Preta, fundado em 1918 e considerado o mais antigo bloco de carnaval em atividade no Rio; último remanescente dos antigos cordões.
Um registro do trabalho de instalação da rede subterrânea da Light, entre os bairros do Flamengo e a subestação da Frei Caneca. Ao fundo o túnel Santa Bárbara, sentido Laranjeiras-Catumbi.
Desde o início da década de 1940 já se desenvolviam políticas públicas voltadas à questão das favelas na cidade. Em 1948 foi realizado o primeiro censo das comunidades; já havia 105 favelas e sua população era de migrantes, em sua maioria. Bem mais à frente, em 1979, quando Israel Klabin foi indicado para assumir a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro pelo então governador Chagas Freitas, seu desejo era criar uma secretaria de desenvolvimento social que desse ênfase à solução dos problemas das favelas – e o precário fornecimento de energia elétrica era um dos aspectos a serem atacados, entre outros. Esta documentação visual aborda aquele período, quando a Light e o governo municipal trabalharam juntos. Na fotografia, vemos como eram as antigas caixas de luz, instaladas em um ponto onde a energia elétrica da Light chegava e a partir das quais iniciava-se uma rede informal de distribuição a dezenas ou mesmo centenas de unidades familiares.
Esta fotografia mostra como as novas instalações eram implantadas, em substituição à antiga fiação, improvisada pelos próprios moradores a partir de um único ponto distante e trazida às suas residências de maneira precária e irregular.
Sempre que possível, caminhões dotados de ágeis guindastes participavam das operações, adentrando espaços ínfimos para proceder à instalação dos pesados postes de concreto.
Nem sempre os caminhões e seus guindastes podiam participar; transportar os postes através de encostas íngremes e instalá-los era uma operação às vezes arriscada e que implicava em muito esforço, envolvendo sofisticadas medidas de segurança e uma equipe sempre empenhada na realização da tarefa.
Esta imagem é um belo exemplo da integração entre os trabalhadores da Light e os moradores daquelas comunidades, que os receberam com curiosidade e atenção.
Que felicidade poder observar a sua própria ‘caixa de luz’ com o relógio a indicar o consumo de energia da família. A partir de então, os moradores passaram a receber mensalmente a sua conta de luz, alçando assim um novo patamar de cidadania: o comprovante de residência que até então não possuíam e que abria portas para outros direitos.
Observe-se na fotografia, o contraste entre a precariedade do barraco com sua cerca e o poste de concreto com as caixas metálicas e seus medidores, tudo conectado a uma instalação elétrica impecável. Os demais direitos – como o direito à moradia – não chegaram juntos à instalação de energia elétrica, na maioria das vezes.
Por ocasião da entrega das obras, a comemoração não podia faltar! Com certeza envolvia os líderes comunitários, políticos do poder legislativo e do executivo; além da Light, naturalmente. O pequeno grupo percussivo sobre um palco improvisado dava o tom da festa.
Nesta imagem, em evento de entrega de obras de eletrificação, vê-se o prefeito Israel Klabin à direita, trajando um terno branco. Durante o período em que esteve à frente da Prefeitura ele promoveu, entre outras realizações, a anistia fiscal e melhoria do sistema de atendimento ao contribuinte, a urbanização de favelas e o Plano de Atendimento Médico para o Centro e a Zona Oeste do município. No entanto, deixou a chefia municipal em 1980 por conta dos atritos com o governo federal, devido à recusa de sua proposta de reexame da lei da fusão entre o extinto estado da Guanabara e o antigo estado do Rio de Janeiro. Foi substituído por Júlio Coutinho. Em tempos recentes, a Light segue atuando junto a diversas comunidades, em projetos que visam a regularização do fornecimento de energia e a redução do valor da conta mensal – como o Comunidade Eficiente, objetivando a conscientização quanto ao consumo e a doação de equipamentos e lâmpadas.