Novas áfricas chegam

Semba de lá, que eu sambo de cá
Já clareou, o dia de paz
Vai ressoar o canto livre
Nos meus tambores,
O sonho vive

Trecho do samba-enredo da Unidos de Vila Isabel, 2012

Imigrante congolesa. Feira cultural Rio Refugia celebra o dia mundial do refugiado no Sesc Tijuca, junho de 2023. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Nos anos 1990, se fortaleceu uma nova onda migratória atlântica com origem na África. Fugindo dos conflitos em Angola, muitos cruzaram o Atlântico numa nova diáspora rumo ao Brasil, e o Rio de Janeiro foi seu principal destino pelo menos durante duas décadas. Tratava-se de uma população predominantemente jovem e formada por homens, mas as redes familiares foram se constituindo e criando condições para trazer mulheres e crianças. A região portuária recebeu um primeiro fluxo desta migração, e ali se estabeleceram nas casas de habitação coletiva existentes. Com a chegada de mais gente, outras áreas foram ocupadas, sendo uma das mais importantes a Favela da Maré.

O rapper angolano Nizaj, morador da Maré. Foto: Mayara Donária – A Maré Vê

A comunidade angolana da Maré, por sua identidade e expressão demográfica, ganhou espaço local e certa notoriedade, o que não poucas vezes gerou situações de preconceito e estigmatização. Uma parte significativa destes imigrantes era formada por refugiados que, muitas vezes, tinham estudo que chegava ao nível universitário. Como muitos se encontravam sem documentos e em situação econômica precária, foram trabalhar na construção civil e outros serviços não qualificados. 

Imigrante congolês na Feira cultural Rio Refugia, no Sesc Tijuca. Junho de 2023. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A esta onda migratória angolana no Rio, se seguiu a chegada de imigrantes congoleses. Estes, majoritariamente na condição de refugiados, seguiram pelas rotas atlânticas em direção a esta cidade, em busca de oportunidades e de sobrevivência. A maior parte foi para favelas situadas na periferia carioca ou em municípios da Baixada Fluminense. Neste grupo de imigrantes há muitas mulheres, algumas com experiências traumatizantes em suas histórias. Elas buscam ressignificar suas vidas, desenvolvendo atividades em que possam contar com seus conhecimentos e talentos, como o trabalho de trancista de cabelos.

Estes grupos formam novas pequenas áfricas cariocas, atlânticas e contemporâneas.

Entrevista de Mireille Muluila, refugiada congolesa, à ONU Brasil. 2016

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