O Palace Hotel e a Policlínica Geral
Dois espaços inusitados, porém, fundamentais para a arte carioca e brasileira na cidade do Rio foram inaugurados no final da década de 1910 – um no saguão de uma instituição médica, e o outro nos salões de um hotel de luxo.
Em 1919, surge na cidade o Palace Hotel. Ocupando um prédio imponente na Avenida Rio Branco esquina com Almirante Barroso, seus salões foram um local de encontros constantes entre a política, a arte e a vida social da cidade. O hotel abrigou iniciativas importantes como a Associação de Artistas Brasileiros (AAB), fundada por Celso Kelly, um niteroiense que atuou em diferentes campos artísticos e no jornalismo. Segundo o próprio, a AAB nasceu em 1928, devido a um movimento de protesto contra os inúmeros cortes que o Salão Oficial da Escola Nacional de Belas Artes promoveu naquele ano.
O hotel tornou-se uma das principais galerias da cidade, abrigando uma série de exposições modernistas (Lasar Segall e Tarsila do Amaral foram alguns dos nomes) e palestras sobre arte e arquitetura. Entre alguns eventos marcantes, destacam-se o II Salão de novos artistas do Palace Hotel ocorrido em 1926, em que é apresentado para os cariocas a obra de um jovem Cândido Portinari. É lá também que o arquiteto norte-americano Frank Loyd Wright apresenta uma série de palestras para o grande público e que Di Cavalcanti e Ismael Nery organizam em 1928 o “Salão de Maio”, com exposição de desenhos modernos. Em 1929, Nery e Portinari fazem suas primeiras individuais no Palace Hotel, ambas organizadas pela AAB.
Outro importante espaço para as artes visuais nesse período da primeira república foi o saguão da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, na Avenida Rio Branco esquina com a rua São José. Talvez uma das mais importantes no local ocorreu em 1928, com o pernambucano Cícero Dias. O jovem pintor instalou-se na cidade em 1925 e três anos depois exibia suas primeiras obras de peso. Após uma conversa com o médico e intelectual Juliano Moreira, por indicação de Graça Aranha, Dias consegue o espaço para exibir seus trabalhos – desenhos e pinturas. Alguns deles foram, inclusive, vendidos para compradores como Paulo Prado e Olivia Guedes Penteado. Com fortes tons surrealistas, a exposição causou impacto (principalmente negativo) na crítica local e contou com a presença de um entusiasmado Manuel Bandeira e dos demais artistas da cidade, como Di, Nery e Oswaldo Goeldi.