Pintores e grupos dissidentes

Apesar da força e centralização da Academia Imperial de Belas Artes no período imperial brasileiro, a vida de pintores na cidade do Rio de Janeiro obedecia também a outros fluxos. Tanto os diversos estrangeiros que chegavam aqui de forma independente e já com cabedal técnico, quanto professores e alunos que se mostravam ao longo dos tempos insatisfeitos com a rigidez dogmática ou o clima político da Academia, foram artistas fundamentais na construção de um campo autônomo para a arte carioca. Ao buscarem a independência estética e não apenas prêmios e viagens, alguns nomes marcaram época com seus trabalhos. 

Certamente o principal grupo desse tipo foi aquele criado ao redor do pintor alemão Johan Georg Grimm (1846-1887). Profissional renomado e viajado na Europa, Grimm chega ao Brasil em 1878 e após breve período lecionando na cadeira de paisagem, flores e animais da Academia Imperial de Belas Artes (1882-1884), rompe com a direção por conta de sua metodologia engessada e forma um grupo de ex alunos e artistas visando a prática da pintura em espaços livres. Esse grupo, que passou a se encontrar regularmente na cidade de Niterói, é batizado com o último nome do pintor – Grupo Grimm. Formado por nomes de destaque futuro como Castagneto, Antonio Parreiras, Thomas Driendl, Francisco Ribeiro, Hipólito Boaventura Caron e Domingo Garcia y Vasquez, o Grupo Grimm foi um dos principais focos de produção de paisagens no Rio de Janeiro. Disperso a partir de 1886, alguns dos seus participantes deixaram um sólido legado para as artes carioca em particular e brasileira em geral. 

Castagneto, “Trecho da praia de São Roque em Paquetá”, 1898. Wikimedia Commons

Outro movimento importante na diversificação da cena artística carioca, para além do academicismo oficial, foi a fundação em 1856 do Liceu de Artes e Ofício do Rio de Janeiro. Criada a partir da Sociedade Propagadora das Belas Artes, iniciativa liderada pelo do comendador Francisco Joaquim Béthecourt da Silva, o Liceu tinha como missão principal articular os saberes e ofícios das artes com um pensamento ligado aos avanços da nascente indústria brasileira. Espécie de escola técnica e pioneira do pensamento que desembocaria mais tarde no desenho industrial e no design, tinha como cadeiras cursos que iam desde a aritmética, física, química, álgebra, história e geografia até cursos de estética, anatomia e um inusitado curso de fisiologia das paixões. Na parte prática, cursos de desenho aplicado aos ofícios industriais.

Liceu de Artes e Ofícios. Diário do Rio

O Liceu teve diferentes sedes durante seu início. Sua administração e aulas iniciaram em um espaço da Irmandade do Santíssimo Sacramento, na antiga Sé, localizada na Avenida Passos. Passou ainda pela Igreja São Joaquim e outros estabelecimentos até obter sua sede definitiva na Avenida Central (hoje Rio Branco). Voltado inicialmente para populares, homens livres e pobres, operários e artesãos, o Liceu também contribuiu para a formação de nomes importantes das artes no Rio de Janeiro – caso de Rodolfo Amoedo, Carlos Chambelland e Eliseu Visconti, Candido Portinari e Renina Katz. 

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