As primeiras Escolas e Academias

A história das primeiras instituições voltadas exclusivamente para a Arte no Rio de Janeiro é diretamente ligada ao grupo francês que chega em 1816. No mesmo ano em que aportam na cidade, consegue a proteção do Rei e articula a fundação do estabelecimento que iriam lecionar no Novo Mundo: a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios. Com um decreto publicado em agosto daquele ano, a Escola seria uma instituição em que os saberes da arte (ampliada em diferentes técnicas manuais) e das ciências naturais conviveriam. 

Com pensões concedidas pela Secretaria de Estado dos Negócios e Guerra, o grupo liderado por Joachim Lebreton – cujos diferentes trabalhos em Paris incluíam a administração das Obras de Arte do Museu do Louvre – seria responsável pelo ensino do novo estabelecimento. O decreto, porém, não foi imediatamente implementado, fazendo com que os cursos tivessem pequenas turmas e precárias condições. 

Joachim Lebreton. Pintura de Adelaide Labille-Guiard, 1795. Wikimedia Commons

Em 23 de novembro de 1820, a antiga Escola é rebatizada duas vezes (segundo algumas fontes, no mesmo dia): na primeira versão, ela é chamada de Real Academia de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil. Dispensando as ciências naturais e a ambição francesa inicial, tal proposta não se sustentou e logo um outro estatuto define as bases da Academia das Artes. Nessa terceira versão, às aulas de escultura, desenho, pintura e gravura, juntam-se as de arquitetura e mecânica, de botânica e de química. 

Com a passagem do tempo, alguns dos nomes originais do projeto de 1816 são trocados por conta de desentendimentos entre seus integrantes ou até mesmo mortes – como foi o caso de um dos mentores de toda a ideia, o próprio Lebreton, em 1819. Outros nomes continuam nos planos de ensino de artes e da corte, como é o caso de Debret, Nicolas-Antoine Taunay, Grandjean de Montigny e Ovide. Dos que não estavam na primeira leva vinda em janeiro, chegaram novos professores como os irmãos Marc e Zépherine Ferrez (escultores, gravuristas, desenhistas). Apesar da nova tentativa, a Academia nesse formato também não sai do papel e seu funcionamento oficial é adiado. 

Na época em que os franceses estavam no Rio de Janeiro, os desdobramentos políticos dos conflitos napoleônicos com Portugal e a restauração dos Bourbons na França transformavam a presença dos artistas em um possível problema político. Além disso, Dom João VI encontrava-se em plenas disputas pelo poder em Portugal e no Brasil. A colônia, por exemplo, estava no epicentro dos movimentos de independência brasileira. 

Nesse contexto, foi somente em 5 de novembro de 1826, dez anos após a chegada da missão idealizada pelo Conde da Barca (que falece ainda em 1817) e por Lebreton, e depois da independência do Brasil, que a escola, agora batizada Academia Imperial das Belas Artes, é inaugurada com pompas e circunstâncias com presença do Imperador Dom Pedro I. Ela passa a funcionar definitivamente em um novo e definitivo prédio originalmente projetado por Grandjean de Montigny.

Academia Imperial de Belas Artes. Foto atribuída a Marc Ferrez. Wikimedia Commons

Após sua inauguração oficial, a antiga Escola Real de Ciência, Artes e Ofícios passa a funcionar como um estabelecimento que difundiu práticas artísticas no Rio de Janeiro, inclusive sendo espaço importante para os seus populares com talentos. A Academia se tornou a casa de nomes que serão importantes na cena cultural e artística do Segundo Reinado, como Manuel de Araújo de Porto-Alegre, que viria a ser um de seus futuros diretores, Pedro Américo, Victor Meirelles, Almeida Junior ou Rodolfo Bernardelli. Foi também na Academia que foram realizadas (por iniciativa de Debret e auxílio de seu aluno, Porto-Alegre) as primeiras exposições públicas de artes no país, em 1829, com sucesso de público maior ainda na segunda versão, logo no ano seguinte.

Manuel de Araújo Porto-Alegre, “Coração de D. Pedro II”, 1845. Wikimedia Commons

Atravessando o século XIX em articulação direta com o Império e a figura filantrópica de Dom Pedro II, o advento da República em 1889 acelera uma série de impasses sobre a estrutura curricular que a Academia Imperial ainda sustentava. As transformações no cenário artístico internacional e brasileiro pressionavam as bases lançadas ainda em 1816 por Lebreton e reivindicavam uma reformulação. Após embates entre diferentes grupos políticos e o destino da instituição, em 8 de novembro de 1890 nascia a Escola Nacional de Belas Artes, instituição que funciona até ser absorvida pela Universidade do Rio de Janeiro (antiga UFRJ) em 1931. 

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