Redação do jornal Última Hora é depredada
01 de abril de 1964
Lucas Garabini
O jornal Última Hora, do russo-brasileiro Samuel Wainer, foi criado em 1951 como veículo apadrinhado do governo Vargas, em especial na consecução de empréstimos do Banco do Brasil, chegando a ter onze edições locais numa época em que as publicações estavam restritas a circular apenas na praça de origem. Era, sem dúvida, um império da comunicação.
A relação entre imprensa e poder sempre existiu, camuflada. Wainer, porém, não lançou mão da estratégia velada e abriu logo o jogo: jornal tem lado e o Última Hora era um jornal getulista. Sua primeira edição saiu com editorial assinado por Getúlio.
Pouco mais de uma década depois, o jornal de Samuel Wainer foi a única grande publicação a apoiar o presidente João Goulart e suas Reformas de Base, que provocavam arrepios na população conservadora, aterrorizada pela ameaça de uma guinada comunista do governo.
No Comício da Central do Brasil, Jango declarava a nacionalização das empresas estrangeiras de petróleo e a desapropriação de terras subutilizadas às margens de ferrovias e rodovias. O discurso soou radical demais e lançou sementes num terreno já preparado para o golpe militar.
Logo na primeira manhã de abril, dia seguinte ao início das movimentações golpistas, a população contrária ao governo saiu às ruas do Rio de Janeiro inflada pelo governador da Guanabara Carlos Lacerda, opositor de Jango e adversário ferrenho de Wainer.
Na esteira da desmedida comoção, um dos alvos foi a sede do Última Hora, depredada e incendiada. Não houve meios de colocar nas ruas a edição daquele dia. Mas a do outro saiu, num enorme esforço dos colaboradores para estampar a violência que inaugurava os anos de chumbo.
Primeira página do jornal Última Hora, com a notícia da depredação. Jornal Última Hora, Rio de Janeiro, 02 de abril de 1964. Acervo Biblioteca Nacional