Pré-Vestibular Machado de Assis
No começo dos anos 2000, um movimento social de luta pela moradia no centro do Rio de Janeiro atuava nas ocupações sem-teto, que na época eram várias, algumas delas existentes até hoje. Este movimento autônomo, sem relações com governos, partidos políticos (mas não apartidário, pois há diferença entre essas duas noções) e ONGs, pautava a autogestão, a ação direta e a democracia de base como métodos de mobilização e fortalecimento da luta dos trabalhadores.
Em 2007, parte deste movimento entendeu que era preciso aprofundar laços com o território como uma estratégia para potencializar as lutas comunitárias e, em 2008, iniciou um projeto de reforço escolar que funcionava na Casa Amarela. Neste mesmo ano, surgiu o GEP (Grupo de Educação Popular), que congregou quase uma centena de militantes até sua dissolução em 2015. Em 2009, surgiu o Pré-vestibular Comunitário Machado de Assis, que é o mais longevo de todos os projetos que o antigo GEP iniciou. Desde então, mantemos a mesma orientação política e método de atuação.
Como é dar aula em uma comunidade?
Desde o início, muitos professores eram os próprios moradores que haviam concluído a universidade, atuavam como professores na rede pública e também faziam parte do GEP.
É importante dizer que o pré-vestibular não é um projeto com um fim em si mesmo. Isto é, ele é uma forma de atuação que visa não só que a juventude da favela entre na universidade pública, mas também busca atuar na mobilização comunitária.
Um exemplo disso, que é sempre bom relembrar, é que há dez anos o Machado de Assis foi fundamental na luta dos moradores contra as remoções de centenas de casas que aconteceram entre 2011 e 2013. Muitos coletivos de fora da Providência atuavam nessa luta, porém, todos eles buscavam ajudar os moradores dizendo a eles o que deveria ser feito, sem uma real preocupação em fortalecer a auto-organização dos moradores. Nós, do Machado, atuamos no sentido de mudar essa correlação de forças e, ao final dessa longa luta, que foi vitoriosa para os moradores (das mais de 800 casas que seriam removidas, 600 ainda estão de pé), a Comissão de Moradores era uma força comunitária reconhecida e que decidia os caminhos da luta.
Como foi encontrar os professores?
Alguns professores estão há mais de 10 anos, outros há mais de 5. Porém, todos os anos há alguma rotatividade entre professores. Fazemos campanhas nas redes para recrutamento e selecionamos aqueles que se alinham com a perspectiva do pré. Isso porque interessa não só que se comprometam em preparar e dar aulas, mas também que se engajem na gestão do Machado, que o construam organicamente.
O que esperar futuramente do pré vestibular?
Em primeiro lugar, que ele continue servindo aos filhos dos trabalhadores da Providência como espaço de construção e conquista do sonho de entrar em uma universidade pública. Em segundo, que o pré-vestibular continue sendo um espaço de referência para a favela, promovendo reflexões e ações para além da sala de aula, que envolvam a comunidade e possam auxiliá-la em suas mais diversas lutas.