Palácio Pedro Ernesto

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O Palácio Pedro Ernesto foi inaugurado em 21 de julho de 1923, como nova sede do Poder Legislativo da cidade do Rio de Janeiro, à época, capital da República. Essa função permaneceu até 1960, por conta da transferência do poder federal para Brasília e a transformação do Rio de Janeiro na Guanabara, única experiência de uma cidade-estado na história do Brasil. Ao longo de 37 anos como um dos principais espaços de poder do Rio capital, o prédio só perdeu essa função entre 1937 e 1945, com o seu fechamento por conta da instauração da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas. 

O Palácio teve momentos emblemáticos na história da cidade: em abril de 1935, o médico Pedro Ernesto foi o primeiro prefeito carioca eleito pelos vereadores do Rio de Janeiro. Por conta disso, o palácio veio a ser homenageado com seu nome em 1951. Com o fim do Rio capital, o Palácio virou Parlamento estadual: entre 1963 e 1974 abrigou a Assembleia Legislativa do Estado da Guanabara; e, após a fusão com o antigo Estado do Rio, se transformou na sede da Câmara Municipal da cidade no ano de 1977, sendo o local da posse dos prefeitos desde então. A edificação foi tombada pelo INEPAC no ano de 1978.

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Vista do Palácio do Conselho Municipal em 1928. Augusto Malta. Acervo Instituto Moreira Salles.

Antes do palácio ser inaugurado na década de 1920, os vereadores do Rio de Janeiro ocupavam um antigo prédio nas regiões do Campo de Santana. Após a Proclamação da República, a Câmara Municipal foi transferida para a região que hoje é a Cinelândia em 1896 – à época era conhecida como Largo da Mãe do Bispo, no encontro do antigo Convento da Ajuda com a Rua dos Barbonos e a Rua da Guarda Velha (atual Rua Evaristo da Veiga) – ocupando uma velha construção que havia sido uma escola construída por D. Pedro II no Império. O prédio foi destruído em 1918 para construção do novo palácio dos vereadores da capital, em uma Cinelândia já modificada pelas reformas urbanas do então prefeito Pereira Passos (1902-1906), que buscou transformar o centro da cidade na vitrine do progresso republicano.

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Antiga Escola de São José, localizado no largo da Mãe do Bispo, atual Praça Marechal Floriano, demolida para construção do Palácio Pedro Ernesto, c. 1904. Augusto Malta. Coleção Gilberto Ferrez. Acervo Instituto Moreira Salles.

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Reformas para a abertura da Avenida Central alcançam o Largo da Mãe do Bispo. Dominando a imagem, tem-se o Convento da Ajuda e, em segundo plano à direita, o antigo edifício do Conselho Municipal. Augusto Malta, 1905. Coleção Gilberto Ferrez. Acervo Instituto Moreira Salles.

A exuberância da capital republicana incentivou que os vereadores quisessem construir uma nova sede para o Legislativo municipal. Em 1918 foi aprovado e começou-se a construção do projeto do arquiteto Heitor de Mello para o novo palácio: Mello possuía um dos maiores escritórios técnicos da cidade, tendo executado importantes obras como a primeira sede para uma delegacia de Polícia no Rio (1909), no Catete. 

O arquiteto projetou o novo prédio dos vereadores com inspiração no Liverpool Cotton Exchange do Reino Unido. Porém, o prematuro falecimento de Heitor de Mello em 1920 impactou o andamento do projeto: a finalização do palácio foi assumida por Archimedes Memoria em parceria com Francisque Cuchet, responsáveis pela idealização e construção do Palácio Tiradentes, antiga sede da Câmara dos Deputados, inaugurado em 1926. Inaugurado em 1923, o Pedro Ernesto se notabiliza como irmão mais velho do Palácio Tiradentes, por adotar a mesma linguagem arquitetônica inspirada na Antiguidade e no Renascimento, além de serem dois dos primeiros edifícios em concreto armado da América Latina. Porém, o palácio se tornou relativamente menor e mais caro do que outras edificações da época, o palácio ganhou o apelido de “Gaiola de Ouro”.

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Avenida Rio Branco, tomada das imediações da Rua Pedro Lessa. Destaca-se o Palácio Pedro Ernesto em construção com andaimes à esquerda. Percebem-se os detalhes dos ferros típicos do concreto armado. Ao fundo, o Morro de Santo Antônio. c. 1918-1920. Autor não identificado, c.1918-1920. Acervo Instituto Moreira Salles/Coleção Sebastião Lacerda.

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Charge da Revista “O Malho” satirizando o termo “Gaiola de Ouro”.  O Malho, nº 1.089, 28 de julho de 1923. Acervo da Biblioteca Nacional

Hoje emoldurado por arranha-céus que varreram a Cinelândia das suas antigas salas de cinematógrafos, a arquitetura narrativa do Palácio Pedro Ernesto utiliza a história da arte para contar a história da cidade. Isso se dá pelos usos dos elementos decorativos: inicialmente, pelo destaque da elevação do palácio pela escadaria, típica das construções francesas do final do século XIX, mas executada a partir da pedreira do Morro da Viúva, tornando o edifício um monumento arquitetônico na Cinelândia. Passando pelos elegantes portões em ferro batido executados pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, à varanda cortada pelas colunatas greco-romanas que dão para o Salão Nobre, destacam-se as torres laterais. Na base das mesmas, há dois relógios: o da torre direita tem a função de marcar as horas e minutos; o da esquerda, foi fabricado para regular as fases da lua, os dias e os meses. Por fim, nessas torres encontram-se quatro alegorias do afamado escultor Corrêa Lima: da esquerda para a direita apresentam-se “Terra Primitiva”, “Cidade Colonial”, “Cidade Imperial” e “Cidade Republicana”. Associando a cidade e a arte, o Palácio Pedro Ernesto é um marco das transformações arquitetônicas que criaram a identidade do Rio de Janeiro na primeira metade do século XX.

Esculturas em processo de execução no ateliê de Correia Lima: Cidade Republicana e Cidade Imperial. Vida Carioca, nº 30, 24 de junho de 1922. Acervo da Biblioteca Nacional.

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