Narrativas errôneas… 

O discurso atual sobre mudanças climáticas pode ter um efeito reverso quando se trata da produção do Risco nos processos de ocupação. A topografia do Rio de Janeiro, íngreme, rica em morros e encostas, com suas baixadas alagáveis propõem um sítio urbano complexo que tem sido constantemente marcado por deslizamentos de terra e inundações. Construir uma cidade, habitar bem e viver bem exigem, nessas condições, um trabalho consistente de atenção, planejamento e políticas públicas assertivas. O clima tropical atuante sobre o Rio de Janeiro está associado, principalmente, à dinâmica de entradas de frentes frias, nesta latitude, próxima ao Trópico de Capricórnio, onde massas frias e quentes interagem em um regime sazonal de chuvas. Essa condição se estabelece, desde pouco mais de 10.000 anos, quando se marca o fim da última glaciação. A famosa Era do Gelo, que caracteriza a última época geológica (Pleistoceno), terminou e um processo marcante de aquecimento global, levou a tropicalização do clima em nossa região. Esses ciclos de glaciação foram descritos pelo sérvio Milankovitch, que estudou alterações na trajetória orbital da Terra ao redor do Sol, entendendo que elas podem provocar mudanças cíclicas na quantidade de radiação solar que chega ao planeta. Esses pulsos de energia, acabam moldando os ritmos do clima terrestre ao longo do tempo, criando as Eras do Gelo, alternadas com períodos mais quentes interglaciais. A tropicalização que marca o início de nossa época atual, chamada Holoceno, provocou a expansão das florestas tropicais que diminuíram as áreas de savanas (Cerrados e Caatingas) adaptadas ao clima seco e gelado. A Floresta Amazônica e os ecossistemas de Mata Atlântica ocupam as áreas, onde a umidade se concentra e recobriam grande parte da faixa equatorial e da costa Atlântica, respectivamente. Com essa mudança climática, as chuvas tropicais passaram a compor a nova curva normal do clima que vai aumentar consideravelmente os índices pluviométricos dessas regiões, incluindo o Rio de Janeiro. O regime de chuvas, aumentado em volume, responde agora à sazonalidade das estações do ano, geradas por uma órbita mais próxima da radiação solar, e, portanto, mais quente globalmente. A alternância entre inverno e verão no hemisfério sul, é resultado da translação em torno do sol, em virtude de um eixo de rotação inclinado. Portanto, apesar dos índices pluviométricos se manterem quase que constantes ao longo de todo o ano, o verão tropical é marcado pela concentração de chuvas, enquanto o inverno por uma maior escassez. Assim, nos últimos 10.000 anos, pelo menos, ocorrem chuvas de verão por aqui. Essas chuvas, também por respostas aos processos astronômicos de proximidade e distância do sol ou de maior ou menor radiação solar, entre outros fatores, respondem em ciclos de 5 anos ou 10 anos ou 30 anos ou mais com chuvas extremas. Os chamados eventos extremos, que concentram alto índice de pluviosidade em pouco tempo, chamadas de Tormentas Tropicais, Tempestades Tropicais ou Temporais, são comuns e fazem parte da curva normal do nosso clima. Portanto, é esperado e sabido que vão ocorrer eventos extremos de tempos em tempos, eles são extremos, mas não extraordinários, ao contrário, são ordinários e vêm acontecendo há muito tempo.

Os estudos recentes sobre a influência humana nas mudanças climáticas globais tratam de outro assunto. Apontam, segundo estudos recentes, que a concentração de gases que retem calor na atmosfera, sobretudo aqueles gerados pela emissão da queima de combustíveis fósseis, provoca o aumento da temperatura na atmosfera terrestre, desequilibrando os ciclos consagrados, desde o Holoceno.

Os chamados ciclos de Milankovitch já são compreendidos pela ciência há mais de um século e justamente por isso, quando os pesquisadores apontam que as transformações climáticas que vivemos hoje têm origem nas ações humanas, é porque já se considerou e descartou a hipótese de que se trate apenas de uma variação natural do sistema. Segundo esses autores, o que vivenciamos agora acontece em uma velocidade muito maior que os ritmos naturais do planeta. 

Assim o que podemos chamar de narrativas errôneas são aquelas que se aproveitam do discurso das Mudanças Climáticas Antropogênicas para culpar processos que ocorrem, não por uma alteração no ritmo de chuvas ordinárias, mesmo que extremas, mas por um péssimo modelo de urbanização. A despeito das Mudanças Climáticas provocadas pela humanidade nos últimos séculos, mesmo que nã ocorressem, os problemas urbanos do Rio de Janeiro iam se agravar. As chuvas normais, por vezes de pequena magnitude, causam enchentes e deslizamentos em áreas onde a ocupação foi mal-feita. Mesmo que não ocorressem alterações no clima, os desastres acontecem pela má gestão da cidade. Esses desastres não são naturais ou apenas consequência de fenômenos climáticos, mas de um crescimento urbano baseado em ocupações inadequadas do solo, especialmente em áreas de risco, como as encostas e as baixadas. A verdadeira solução para o problema exige um compromisso contínuo com a reorganização do espaço urbano, que não entenda a cidade como mercadoria, mas que incorpore o planejamento da ocupação com a conservação das dinâmicas próprias do ambiente que ocupa. O futuro do Rio de Janeiro dependerá de sua capacidade de integrar crescimento urbano, criando espaços seguros para seus habitantes e qualidade de vida e de existência plena.

Réveillon em Copacabana

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