Ué, a gente não ia pra casa?
Autora: Beatriz Martins da Silva
A minha história começa na zona norte do Rio de Janeiro Em 2019, minha mãe e eu saímos para uma consulta odontológica e ela me avisou para usar roupas confortáveis – “coisa de mãe”, eu presumi. Nós moramos longe do centro, mas era lá a clínica que, pelo antigo plano do sindicato, poderíamos fazer a consulta.
Depois da consulta, minha mãe aproveitou para me levar para conhecer os arredores, já que eu não costumo frequentar a área. Entramos em uma loja de instrumentos musicais, uma livraria e um sebo, onde eu comprei dois livros que me trazem hoje a boa memória desse dia.
Enquanto passeávamos, avisei que já era suficiente e poderíamos ir para casa, mas minha mãe insistiu para andarmos um pouquinho mais, até que de repente, ela disse:
– Esse ônibus aqui, vamos!
Não bastando o caráter repentino dessa fala, que poderia ser dita por um sequestrador, nós chegamos até a clínica pelo metrô e voltaríamos por lá, também. Estranhando tudo isso, não pude evitar e perguntei:
– Ué, mas a gente não ia pra casa?
Depois de acomodadas nos nossos assentos, minha mãe me contou que o plano do dia era, de surpresa, me levar ao Jardim Botânico.
Até hoje eu nunca fui ao Jardim Botânico e você, caro leitor, vai entender agora o motivo. O caso é que ela não tinha certeza de qual ponto saltar para chegar lá, então como qualquer pessoa faria nessa ocasião, ela levantou e disse ao motorista:
– O senhor pode avisar quando chegar no ponto que a gente desce pra ir pro Jardim Botânico?
Seguimos viagem e, aparentemente, o destino nesse dia quis que fôssemos parar no Parque Lage. O motorista avisou e deu alguma instrução, mas, depois de andar à beça, chegamos na entrada do Parque Lage. “Vamos entrar?”… e eu sigo sem conhecer o Jardim Botânico.
Nós não conhecíamos o parque e acabamos passando o dia andando por lá. Tiramos fotos – como essas que estão no documento -, vimos e aprendemos coisas novas, como por exemplo que, antigamente, a região era um engenho de açúcar. Vimos o lugar onde os escravizados lavavam roupa, apreciamos a beleza do local e eu, particularmente, morri de medo a certa altura: embora avisada, não fui com uma roupa apropriada. Minha sapatilha escorregava e eu já tenho pouco equilíbrio por natureza, o que me levou a temer escorregar e cair na pontezinha em frente a uma gruta do parque.
Por fim, também havia uma exposição de arte onde costumava ser um estábulo. Pusemos os pés na entrada, mas não entendemos o propósito dos tijolos transpassados com fios de cabelo dispostos no chão. As figuras na parede me causaram desconforto. Achamos melhor deixar a exposição de lado e antes mesmo de entrar no local, nos retiramos. Caminhamos mais um pouco por ali e voltamos para casa.