Sons sagrados e o burburinho das ruas

Toques de procissão – Trecho do documentário Universo das Torres

Quem atravessa a praça Pio X, no centro do Rio, sobe os três degraus de acesso à igreja e atravessa o umbral da porta central ornamentada com a imagem da Virgem Maria cercada de querubins, logo percebe que toda a agitação da avenida Presidente Vargas é de repente ofuscada por uma atmosfera serena. No interior da Igreja de Nossa Senhora da Candelária, o silêncio austero só é quebrado pela ressonância de um conjunto de vozes que cantam hinos ao pé do distante altar.

Foto: Américo Vermelho – Interior da Antiga Sé

O som ecoa pelo teto côncavo adornado com painéis de Zeferino da Costa, que contam a história da própria igreja desde o início da sua construção, ainda no século XVII.  Lá fora, os quatro sinos – que um dia também tiveram a função de alertar a população para as ameaças de invasão da baía de Guanabara – anunciam a próxima missa. Existem diferentes toques para cada ocasião: casamento, batizado, cerimônia fúnebre e por aí vai.

Foto: Américo Vermelho – Avenida Presidente Vargas e Igreja da Candelária

A cena se repete em outras capelas. Como na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, onde se encontra o sino mais antigo do Rio de Janeiro, fundido por um português em 1810 e enviado como presente a D. João VI. “O sino é a bateria de escola de samba da igreja, dali sai toda a emoção do que está sendo feito”, diz Manoel dos Santos, historiador e sineiro, único responsável pela conservação e rotina de todos os sinos espalhados pelas 240 igrejas da cidade. “Tocar sino é como uma percussão. As pessoas acabam não percebendo os diferentes sons”.

Foto: Hilton R. Filho

Mas outros tipos de barulho também povoam o interior das igrejas. No Mosteiro de São Bento, por exemplo, o canto gregoriano dos monges completa o ritual da missa dominical. Já quem passa pela rua da Carioca, próximo à praça Tiradentes, talvez consiga escutar o som do órgão de tubos dedilhado na galeria da Catedral Presbiteriana do Rio – a primeira do Brasil –, que, acompanhado das vozes do coral, serve para marcar o prelúdio e o poslúdio dos cultos matutinos, desde sua fundação, em 1862. Convites à reflexão e à devoção, o tom solene que preenche alguns templos do Rio de Janeiro não parece se chocar com o burburinho que vem das ruas. Integrada à diversidade de ruídos produzidos todos os dias pela cidade, a sonoridade sacra que flui nesses lugares já parece integrada ao cotidiano carioca, com seu vozerio profano.

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