Heranças de Mãe África

Toques de Atabaque – Professor Paulo de Xangô

A cantoria à capela de uma roda de samba, acompanhada pela marcação das palmas e pelos versos repetidos pelo coro de vozes, começa após a saudação aos Orixás. “Epa Babá, Oxalá! Epahey Oyá! Ora yê yê ô, Oxum!” O som ecoa da curva numa ladeira íngreme, numa área verde que fica entre mansões e prédios de luxo na Lagoa. A placa acima do portão que dá acesso aos 18 mil m² de mata logo indica que se trata do quilombo Sacopã. “Nós somos da Nigéria. Somos negros no meio de brancos”, conta o sambista Luiz Sacopã, remetendo-se à história do quilombo urbano instalado no alto da ladeira do Sacopã, em 1929, que teve dentre os fundadores seu pai, Manoel Pinto, sua mãe, Eva Manoela Cruz, e quatro irmãos.

Foto: Thiago Diniz – Terreiro de Encantaria Palácio da Mãe D’água, aniversário do Caboclo Zé Pelintra – 2018

“No terreiro de preto velho, iá, iá / Ora vamos, Saravá / A quem meu pai? Xangô!”. A alguns quilômetros dali, outra roda de samba com pegada de capoeira e batida de berimbau ressoa de uma comunidade quilombola remanescente. Dessa vez, é o quilombo da Pedra do Sal, localizado na zona portuária, região próxima ao Cais do Valongo. Área que um dia foi apelidada de “Pequena África” por Heitor dos Prazeres, e que, em 1987, foi tombada como patrimônio material da cultura negra no Rio de Janeiro. Frequentado, no início do século XX, por ex-escravizados, foi de lá que saíram os primeiros e mais populares terreiros e rodas de samba do Rio de Janeiro, como aquele do babalorixá João Alabá, na rua Barão de São Félix.

Foto: Thiago Diniz – Terreiro de Encantaria Palácio da Mãe D’água, aniversário do Caboclo Zé Pelintra – 2018

Saindo da antiga rua Visconde de Itaúna, próxima à praça Onze, um corredor dava acesso à casa de dona Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, mãe de santo e uma das tias baianas mais conhecidas no centro do Rio. Foi na Casa da Tia Ciata, que Donga e Mauro de Almeida compuseram aquele que é considerado o primeiro samba da história a ser gravado: “Pelo Telefone”.

Foto: Thiago Diniz – Terreiro de Encantaria Palácio da Mãe D’água, aniversário do Caboclo Zé Pelintra – 2018

Exemplos da relação simbiótica entre o sagrado e o profano, espaços onde pulsam os traços do candomblé e da umbanda, as rodas de samba e terreiros cariocas mantêm viva a herança daquela tradição ancestral de unir agogôs, xequerês e atabaques, conduzidos por Alabês e Curimbas, para buscar, na agudeza dos sentidos e na performance dos corpos, a manifestação do divino.

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