Opinião 65

Após o fim do CPC da UNE, cujo prédio na Praia do Flamengo foi queimado na noite de 31 de março de 1964 — a primeira do Golpe civil-militar —, os seus artistas ligados ao teatro se reuniram para enfrentar tanto o regime quanto o desemprego. Dessa reunião, fundaram o coletivo de atores, autores e diretores intitulado Grupo Opinião. Oduvaldo Viana Filho (Vianinha), Ferreira Gullar, Paulo Pontes, Tereza Aragão, Armando Costa e outros conseguiram montar alguns espetáculos importantes. 

O maior deles, sem dúvida, foi Opinião, escrito pelo trio Vianinha, Gullar e Pontes e dirigido pelo então diretor do Teatro de Arena de São Paulo, Augusto Boal. Com estreia em dezembro de 1964, foi um sucesso de público e crítica. Sua perspectiva sobre o que era o “povo”, porém, permaneceu ligada à perspectiva do CPC, isto é, a criação e difusão de uma arte “popular e revolucionária”. A dramaturgia, um musical intercalado de textos sobre a situação política do Brasil e das Américas (do Norte do Sul) ainda seguia a lente do realismo socialista, em que o “povo” seria uma união virtuosa de camponeses, operários e burgueses esclarecidos. No caso de Opinião, estas personagens eram interpretadas, respectivamente, pelos músicos-atores João do Vale, Zé Ketti e Nara Leão. 

Cartaz da Exposição Opinião 65. Fonte: Memórias da Ditadura.org

Seu sucesso e sua qualidade estética fizeram com que o nome Opinião se espalhasse no imaginário da época. Além do espetáculo e de um disco de Nara Leão com o mesmo nome, em agosto de 1965 o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro também teve sua exposição intitulada Opinião 65. Contando com dezessete artistas brasileiros e treze artistas franceses, muitos dos nomes locais já vinham de trajetórias sólidas, outros teriam grande destaque nas décadas seguintes. É o caso dos que vinham dos embates no grupo concreto e neoconcreto Hélio Oiticica, Ivan Serpa e Waldemar Cordeiro, ou dos jovens Rubens Gerchman, Antonio Dias, Carlos Vergara e Roberto Magalhães. Idealizada pelo marchand Jean Boghici e pela curadora Ceres Franco, foi quando a jovem pintura brasileira – com artistas moradores do Rio de Janeiro – se mostrou como força renovadora das artes brasileiras. 

Hélio Oiticica e moradores da Mangueira no MAM, agosto de 1965. MAM-Rio

A exposição fez grande sucesso na imprensa carioca, com longos artigos debatendo o caráter político e estético que predominava nas obras exibidas no MAM. Para além do interesse crítico, Opinião 65 também se tornou famoso na época por uma situação em que a arte e a cidade do Rio de Janeiro viram o encontro conflituoso de seus extremos. Era a primeira vez que Oiticica exibiria em público seus Parangolés. Para a performance, o artista estava acompanhado dos passistas e dos moradores da Mangueira. A ideia, porém, não prosperou, já que a direção do museu barrou a entrada dos integrantes da escola. A proibição dos sambistas e moradores da Mangueira nos salões do Bloco-Escola do MAM se tornou uma polêmica pública, já que Oiticica foi à imprensa para denunciar o que chamou racismo da instituição. Era o encontro de duas cidades que, na época, não se encontravam em hipótese nenhuma. 

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