Maciço Gericinó – Mendanha
O Maciço de Gericinó-Mendanha impõe-se na paisagem da zona oeste do Rio de Janeiro como uma unidade morfoestrutural distinta, tanto por sua altitude quanto pela natureza singular de seu substrato geológico. Ao contrário dos maciços cristalinos formados por gnaisses e granitos típicos do embasamento fluminense, o Gericinó-Mendanha se estrutura sobre rochas alcalinas, produto de intrusões magmáticas que romperam a crosta continental durante o período Cretáceo, há cerca de 80 a 100 milhões de anos.

Mendanha imponente sobre a baixa norte do Rio de Janeiro. Em primeiro plano do lado esquerdo a Floresta do Camboatá, objeto da polêmica obra do autódromo.
Trata-se, portanto, de um maciço alcalino intrusivo, cujas rochas predominantes incluem sienitos e outras ricas em minerais típicos dos magmatismos de caráter alcalino-potássico. Essa característica confere ao maciço uma composição geoquímica diferenciada e uma resistência maior à erosão, o que se reflete diretamente nas formas do relevo.
Suas elevações, vão acima de 800 metros, tendo o Pico do Guandu como o mais alto com 974m. Seus alinhamentos serranos, formam, basicamente três grandes espigões: Serra de Madureira, com o Pico do Guandu, Morro do Gericinó, Pico da Furna da Andorinha; a Serra do Mendanha com o Morro do Salvador, Morro do Mariano e Morro do Guandu e a pequena Serra do Marapicu, com o Morro do Marapicu e Morro do Vieira

Serra do Mendanha, primeiro contraforte alinhado paralelamente à Serra de Madureira, no Maciço do Gericinó -Mendanha. Remanescente florestais preservados sob o Parque Municipal Natural do Mendanha.
Suas formas são como domos e cristas que resistiram à dissecação. Ao longo do tempo, processos de intemperismo químico atuaram sobre essas rochas alcalinas, formando coberturas de alteração com solos pouco profundos e blocos residuais que se desprendem das vertentes. Claro, que faz parte do seu processo de evolução geomorfológica a susceptibilidade a movimentos de massa. No entanto, suas vertentes são protegidas por unidades de conservação estadual e municipal, mas ainda assim, em seu entorno, especialmente em trechos ocupados pela expansão urbana, é inquestionável a necessidade de prevenção ao risco geotécnico.

Serra do Quitungo, pequeno alinhamento associado ao Maciço do Gericinó-Mendanha, paralela à Serra do Mendanha. Remanescentes agropastoris mantém a área desmatada e ao fundo a Baía de Sepetiba.
A morfologia compartimentada desse relevo, marcada por vales lineares e vertentes íngremes, denuncia o controle estrutural exercido por zonas de fraturas e/ou falhas que acompanham as direções preferenciais dos processos tectônicos que o maciço sofreu. O alinhamento das cristas e dos rios segue naturalmente a direção Nordeste-Sudoeste, típica da geologia regional. Rios como o Sarapuí, o Cabuçu e afluentes do rio Guandu têm suas nascentes encaixadas nas encostas do maciço, escoando ao longo de zonas de fraqueza estrutural e contribuindo para a modelagem erosiva dessas vertentes.

Sopé da Serra do Quitungo, no Maciço do Gericinó-Mendanha que sofre com a expansão urbana sobre remanescente de agricultura na Zona Oeste. No meio da foto, o alinhamento da Serra .do Retiro, uma das serras isoladas na baixada norte e, ao fundo, as vertentes do Maciço da Pedra Branca.
Nas transições entre o maciço e as baixadas adjacentes — como as dos bairros de Realengo, Campo Grande e Bangu — o embasamento rochoso é parcialmente recoberto por depósitos de encosta e, imediatamente, passa às planícies fluviais recentes, que marcam as áreas de acúmulo sedimentar nas cotas mais baixas. Essa interface entre os domínios morfológicos é também um território de tensão florestal e urbana, onde as pressões de ocupação frequentemente encontram-se com riscos geotécnicos das encostas alteradas e com o desmatamento.

Alinhamento da Serra de Madureira no Maciço do Gericinó-Mendanha, finalizando com o Morro do Marapicu.
O Maciço de Gericinó-Mendanha, por sua constituição geológica única e por sua posição estratégica na compartimentação física do território carioca, funciona como um bloco testemunho da história magmática do Sudeste Brasileiro, evidenciando eventos relacionados à abertura oceânica do Atlântico. Sua existência testemunha, com seu relevo, a expansão periurbana e reminiscências rurais de um município sob plena especulação imobiliária e urgência ambiental.