João Nogueira e o Clube do Samba

João Nogueira em apresentação no Renascença Clube, 1972, autor não identificado. Acervo Arquivo Nacional

Sintoma da febre que tomou o Brasil no fim da década, em 1978 estreava na televisão a novela “Dancing Days”. A disco music — sintetizada pelo tema-título da novela, cantado pelas Frenéticas —, dominava a grade das rádios e as prateleiras das lojas. No extremo oposto, o samba caía preterido pelas gravadoras. Para o cantor, compositor e sambista e natural do bairro do Méier , João Nogueira, se nenhuma atitude fosse tomada, em breve ninguém saberia quem era Cartola, e os desfiles de carnaval seriam ao som da “discoteche”. 

Flamenguista e portelense apaixonado — e um suburbano de marca maior —, João Nogueira procurou dar sequência ao samba urbano descendente do Estácio. Se auto intitulava um “sambista da calçada”: não nasceu no morro, mas sim no bairro do Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro, numa família de classe média. O pai, advogado e músico — dos bons, tocava com gente do naipe de Pixinguinha e Jacob do Bandolim —, foi referência de vida para João, que desde cedo começou a “brincar” com a música. Com seu jeito de cantar quase-atravessado, a voz grave aveludada e um gênio compositor inspirado no trio Noel Rosa, Wilson Batista e Geraldo Pereira, João Nogueira conquistou o respeito e admiração dos maiorais do samba na década de 1970.

João Nogueira, Wilton Montenegro, s/d – Acervo: Coleção MIS

Se a distopia que João Nogueira visualizou era exagero ou não, o certo é que ele deu o sinal e subiu a guarda. Convocou grandes bambas do Rio de Janeiro e ergueu suas barricadas feitas de pandeiro, violão, cavaquinho, batucada — e o que mais de samba tivesse —, e fez do quintal de sua casa, na Rua José Veríssimo, 50, no bairro do Méier, um forte de resistência. Em janeiro de 1979 nascia um culto à música brasileira: o Clube do Samba.

O Clube do Samba seguia a tradição dos pagodes de quintal, que iam de manhã e varavam o dia, regados à muita cerveja, batidinha de limão, angu à baiana e samba de tudo quanto era jeito.  Na estreia, reuniu uma centena de cantores e compositores. Havia espaço para velha guarda e para as gerações seguintes. Segundo João, o Clube era aberto “aos sambistas sim; aos bicões, nada”. Presença constante era Beth carvalho, Martinho da Vila e Alcione, mas de quando em quando, nomes como Cartola, Elizeth Cardoso, Clementina de Jesus, Ivone Lara e Nelson Sargento, Chico Buarque, Clara Nunes e Roberto Ribeiro também pintavam por lá. 

Apesar de um “quê” improvisado, a agremiação tinha pinta de séria, com estatuto, carteirinha de sócio, título emérito, tudo no papel timbrado — até boletins para os associados foram feitos. O Clube ganhou história própria, com fecha-e-abres, mudanças de sedes, e virou até bloco de carnaval, desfilando pelas ruas do Méier há quatro décadas. 

A diretoria do Bloco do Clube do Samba, Ângela Nogueira/Arquivo pessoal

A cobertura em que João Nogueira morou, em frente ao icônico Cine Imperator, também se tornou local de encontro de muitos bambas da música, que compareciam para cantar, tomar umas e curtir uma feijoada ou um caruru, pratos que o próprio João se dedicava a produzir. Por lá passaram Nelson Cavaquinho, Walter Rosa, Nei Lopes, Hélio Delmiro, Joel Nascimento, Zé Katimba, Casquinha, seu companheiro da Portela, e muitos outros. 

João se foi no ano 2000. Mas como diz um verso seu: “o corpo a morte leva/ a voz some na brisa/ a dor sobe para as trevas/ o nome a obra imortaliza”. Em 2012, o antigo Imperator foi reaberto, agora acrescido do título de “Centro Cultural João Nogueira”, numa homenagem àquele que foi um dos mais célebres artistas do bairro. 

Patrocínios

Logo da Lei de Incentivo à CulturaLogo NorsulLogo Btg PactualLogo Kasznar LeonardosLogo Adam CapitalLogo Rio PrefeituraLogo Secretaria de Cultura e Economia Criativa

Parceiros

Logo PUC RioLogo Projeto República UFMGLogo MobcomLogo Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro

Realização

Logo Rio MemóriasLogo Baluarte CulturaLogo MINC Governo Federal
Pular para o conteúdo