Itanhangá

Pedra da Gávea vista da Floresta da Tijuca, Marc Ferrez, c.188o Instituto Moreira Salles

A Pedra da Gávea, localizada na Zona Oeste da cidade, é a montanha mais alta de todo o Maciço da Tijuca. Essa montanha é ainda mais imponente que o próprio Corcovado, e do alto de seu cume, que ultrapassa 840 metros de altura, tem-se um deslumbre da cidade por todos os lados. Nos primeiros anos de presença dos portugueses na Guanabara já havia menção à forma como estes haviam batizado um dos maiores monumentos naturais da região, ponto de referência da cidade e da costa. O maior monolito à beira-mar do mundo, com seu topo alto e relativamente plano, foi logo associado pelos europeus à gávea dos navios que os levaram ao Novo Mundo. A gávea é o pequeno espaço de observação que fica incrustrado no topo do maior mastro. Dela se observam a tempestade, os barcos ao redor e de onde os olheiros gritavam “terra à vista!”, ao perceberem montanhas no horizonte.

A gávea dos navios. Wikimedia Commons

Porém, são poucos os cariocas que sabem identificar a origem e o significado de Itanhangá, bairro de nome tupi. A palavra “Itanhangá” parece evidenciar como os tupis se relacionavam com essa montanha tão singular. O nome originário da Gávea é justamente “Itanhangá”, cuja composição é clara: Itá (pedra) + Anhangá (espírito mal). 

Pedra da Gávea, George Leuzinger, s/d Instituto Moreira Salles

As características únicas do formato do seu domo e de uma de suas faces já foram objeto de criação de lendas e mitos. Muitos veem na “cabeça da Gávea” um rosto humano e certos tracejados na rocha inscrições humanas que provariam a visita de indivíduos de civilizações mais antigas que a dos nossos cariocas originários. Dizem os geólogos que a erosão natural da rocha deixou marcas e formas tão características que tendemos a ver mais seu lado místico e misterioso do que o resultado dos fenômenos de desgastes naturais que dura séculos.

É provável que os nativos também vissem alguma coisa naquela cabeça com o rosto desenhado pela erosão. Temos, então, a Pedra do Espírito Maligno ou simplesmente a Pedra do Anhangá, naquilo que os cristãos associariam ao Diabo. Na religiosidade tupi não existe, obviamente, tal figura cristã. Em outras palavras, denominá-la Pedra do Diabo não reflete sua dimensão indígena.

No detalhe, indígenas atormentados por Aygnan [demônio] – Jean Wechel, encomendado por Théodore de Bry, America tertia pars, Frankfurt (1592).

A tardia urbanização dessa área do Rio de Janeiro onde o Itanhangá sobreviveu fez com que prevalecesse até os dias de hoje, felizmente, nomes de origem ancestral. De agora em diante, podemos chamar a Gávea por ser verdadeiro nome tupi, a Pedra do Anhangá, o Itanhangá, a face do monstro de pedra que a todos nos observa e, muitas vezes, nos persegue e maltrata. Para vê-lo de perto, é “só” preciso subir a Gávea.

O imaginário indígena é permeado de malignos, entre eles o Anhangá. Presente nos mitos tupis como um ser da maldade, o Anhangá é um espírito livre que podia perseguir e maltratar principalmente os considerados covardes e fracos na cultura indígena. Ou seja, aqueles que não cumprissem com suas obrigações sociais ficavam à mercê de serem acossados por suas artimanhas malignas. Anhangá poderia castigá-los a qualquer momento e, ao temerem ser atacados, os nativos buscavam a proteção dos pajés e caraíbas, assim como seguiam os rituais e recomendações. A figura do Anhangá está presente em lendas e mitos tupis e podia ser a razão de algumas perdições e frustrações entre eles. À noite, não saíam da maloca sem uma tocha para espantar o anhangá. 

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