Imperatriz Leopoldina ou Carolina Josefa Leopoldina de Habsburgo-Lorena (1797-1826)

Existe hoje no Brasil uma versão muito conhecida – e muito convencional –, quase aceita por todos, acerca da trajetória pessoal de Leopoldina entre nós: a princesa triste, culta e não muito bonita, de aparência descuidada, que engravidou nove vezes em nove anos, sofreu dois abortos, deu à luz a sete filhos, morreu jovem e abandonada pelo marido.  

Figura 1 – Maria Leopoldina da Áustria, imperatriz do Brasil. Retrato de Joseph Kreutzinger, 1815. Schönbrunn Palace / Wikimedia Commons 

É provável que a primeira imperatriz do Brasil tenha se decepcionado aos poucos com tudo e com todos – o ambiente acanhado e medíocre de São Cristóvão, a atmosfera carregada de intrigas, a ausência de interlocução com pessoas cultas e inteligentes, o isolamento na corte. Também é provável que ela tenha sido tragada pela depressão que a matou prematuramente.  

Figura 2 – Estudo para o desembarque de D. Leopoldina no Brasil, Jean-Baptiste Debret, c.1817. Museu Nacional de Belas Artes. 

Mas Leopoldina também se empenhou decididamente em criar possibilidades de romper com a condição da invisibilidade feminina a que estava condenada, como de resto todas as mulheres do seu tempo, e tentou construir uma história para si mesma. É essa história que é muito pouco conhecida dos brasileiros.   

Parte dela, Leopoldina construiu no campo da política. Ao contrário da passividade da maior parte das mulheres de seu tempo, ela não se manteve distante das disputas e das decisões do poder que definiriam seu próprio destino. A imperatriz não foi apenas uma mulher com acesso ao poder político e uma participante ativa dos acontecimentos de 1821 e 1822 que culminaram na Independência do Brasil. Ela foi também capaz de construir um discurso próprio e apresentar uma personalidade na cena pública.  

Figura 3 – Sessão do Conselho de Estado, a arquiduquesa Maria Leopoldina  
da Áustria, atua como regente em nome de seu marido, o príncipe Pedro, durante a reunião de 2 de setembro de 1822 com o Conselho de Ministros. Georgina de Alburquerque, 1922. Museu Histórico Nacional 

Leopoldina se revelou uma competente articuladora quanto ao tino da política que precisava ser adotada por Pedro I. Também foi capaz de expor e desenvolver argumentos na tarefa de convencer seu pai, o imperador da Áustria, e a corte de Viena, do acerto das resoluções dos partidários da independência em prol da preservação do regime monárquico instalado no Brasil. E deu conta de construir um discurso, em que alinhavou a defesa dos princípios de uma “liberdade justa e sensata”, a regulagem da vida pública nacional por uma “Constituição monárquica nem demagógica, nem anárquica”, a importância da unidade luso-brasileira para garantir o próprio fortalecimento da monarquia. De muitas maneiras, a política fez de Leopoldina uma surpreendente mulher de ação, no Brasil, na primeira metade do século XIX. 

Figura 4 – Juramento de Sua Majestade a imperatriz Leopoldina à Constituição do Império, 25 de março de 1824. Arquivo Nacional. 
 

Este texto foi elaborado pela pesquisadora Heloisa Murgel Starling.

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