Estátua de Pixinguinha

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Alfredo da Rocha Vianna Filho é um nome que nem todos sabem a quem se refere. Mas tudo muda quando o chamamos por sua alcunha: Pixinguinha, considerado por muitos o maior nome da música brasileira. O crítico e historiador Ary Vasconcelos definiu de maneira categórica: “Se você tem 15 volumes para falar de toda a música popular brasileira, fique certo de que é pouco. Mas, se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido; escreva depressa: Pixinguinha”.

Pixinguinha Tocando Saxofone. 1940 Acervo Pixinguinha / Instituto Moreira Salles

Autor de clássicos imortais, como Lamentos e Carinhoso, Pixinguinha herdou do pai, Alfredo Vianna, o nome e a vocação para ser músico. Quando criança, ouvia ele e seus confrades de som às escondidas, fugindo da cama quando já deveria estar dormindo. Cresceu na cena musical dos bairros da Piedade e Catumbi, entre as rodas de choro que seu pai e outros bambas participavam.

Aos quinze anos, mesmo sendo visto como “apenas um fedelho” — como ouviu mais de uma vez alguém se referir a ele — Pixinguinha já era um fenômeno no instrumento. Certo dia, o experiente Antônio Maria Passos — flautista do prestigiado conjunto de Chiquinha Gonzaga, e titular da orquestra do Teatro Rio Branco — teve de se ausentar de algumas sessões da peça “Morreu o Neves”. O violonista do espetáculo, Tute, que já assistira o filho de Alfredo Viana tocar lindamente, sugeriu o garoto como substituto. Vencida a timidez e a desconfiança na audição, Pixinguinha não só deu conta do recado, como impressionou os responsáveis pela peça e o público, que lotava o recinto, em “colossais enchentes”, como disseram os jornais da época. A plateia que ia ao espetáculo esperando dar boas risadas se surpreendia com o trio de choro — na clássica formação, com violão, cavaquinho e flauta. O jeito solto e melodioso de fazer soar seu sopro conquistou a todos, e Pixinguinha saiu de substituto a flautista titular do Rio Branco — para desagrado do também talentoso Antônio Maria Passos.

Pixinguinha aos 25 anos de idade, em Paris, França. 1922. Instituto Moreira Salles. Coleção Pixinguinha

Pixinguinha logo fez seu nome na cena musical carioca — em especial nas boemias da Lapa. Tocou em cabarés, cinemas, ranchos carnavalescos, teatros de revista e integrou grupos conhecidos como “regionais” e conjuntos emblemáticos — dentre eles, os “Oito Batutas”, que fez história no Brasil e no exterior. Trabalhou também como arranjador e maestro em rádios e gravadoras.

Pixinguinha viveu entre os anos de 1897 e 1973. Presenciou muitas transformações experimentadas pela nascente indústria cultural do Brasil. Viu e fez nascer o samba urbano carioca e mudou para sempre os rumos da música popular brasileira. Por essas e outras, Pixinguinha acabou sendo um raro caso de alguém que recebeu não uma, mas duas homenagens em bronze no Rio de Janeiro. Mas à despeito de cumprirem o mesmo propósito — o de homenagear e relembrar o músico à quem passa pelo local —, as estátuas são visivelmente distintas em seus discursos. 

No dia 23 de abril de 1996 foi inaugurada na Rua do Ouvidor, em frente ao local onde ficava o bar Gouveia — estabelecimento que contava com frequência quase diária de Pixinguinha, com direito à placa e cadeira cativa para o músico — uma estátua de Pixinguinha com 1,70 m de altura e quase 500 kg, feita em bronze pelo escultor Otto Dumovich. A estátua, além de estar em um local icônico na história de Pixinguinha, traz o músico em pose visceral e apaixonada, de terno e chapéu, pronto para tocar nas rodas de choro da Ouvidor, Lapa, e onde mais houvesse boemia.

Donatas Dabravolskas/Wikimedia Commons 

Quase duas décadas depois, em 2016, em frente ao Bar da Portuguesa uma segunda estátua em sua homenagem foi inaugurada. Porém, ali já não era o Pixinguinha, instrumentista e compositor consagrado, que está ali representado, e sim o Alfredo da Rocha Vianna Filho, morador de Ramos, na Zona Norte do Rio, em sua faceta de pessoa comum, vivendo sua vida cotidiana no bairro que amava. O artista e cartunista Ique Woitschach, autor da obra de quase 400 kg diz que a estátua é uma “cariscultura” — misto de caricatura e escultura. Esculpiu um Pixinguinha à vontade, de pijamas e chinelo, sentado à mesa, da mesma maneira que ele poderia ser encontrado nos tempos que frequentava o Bar da Portuguesa. Nesse espírito de “boêmia caseira”, a estátua cria um momento de intimidade, entre Pixinguinha e seu bairro. Na inauguração do monumento, festa e muita música — com direito à presença do trombonista Zé da Velha, que chegou a tocar com Pixinguinha.

Foto: divulgação

Em ambos os casos, a célebre frase “minha vida foi muito bem vivida na boêmia” ressoa nos monumentos feitos em sua homenagem.

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