Embarcando nos trilhos suburbanos

Trem inaugural da Estrada de Ferro dom Pedro II, 29 de março de 1858. Publicado na revista Brasil Ilustrado, abril de 1943. Fundação Biblioteca Nacional [http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=244414&pagfis=1894]

O ano de 2022 iniciou-se no Rio de Janeiro com a redução de várias linhas de ônibus e com aumento das tarifas de outros meios de transporte, como barcas e trens. A melhoria na qualidade dos serviços, para nenhuma surpresa dos usuários, não acompanhou o tal aumento. Os incômodos no deslocamento dos moradores do subúrbio sofridos hoje não são novidade para essa população. Na realidade, já eram existentes desde que os serviços de transporte público foram implementados, no século XIX.

O livro de Elaina Serfaty, “Pelos Trens dos Subúrbios: disputas e solidariedades no Engenho de Dentro (1870-1906)”, aborda como o serviço de trens, inaugurado em 1858 no estado do Rio, influenciou a ocupação dos subúrbios naquele século, especificamente o Engenho de Dentro, local onde foram construídas as oficinas dos trens.

Uma charge de Ângelo Agostini, publicada em 28 de setembro de 1882, na Revista Illustrada, permite ver como a questão do transporte — em especial o conflito os interesses público e privado — é pauta do dia já há séculos no Rio de Janeiro. A ilustração se dá num contexto de uma possível redução do número de viagens para os trens dos subúrbios que, de acordo com alguns senadores, prejudicava as viagens de cargas para a exportação. Agostini, como lhe é típico, expressa em seus traços sua visão particular sobre o tema, nesse caso demonstrado pelo ministro da agricultura caído no chão, atropelado pelo trem que representa, simbólica e literalmente, a força do coletivo, a vitória dos suburbanos em defesa de seus direitos na manutenção do número de viagens.

Charge de Ângelo Agostini, publicada na Revista Illustrada. 1882, Fundação Biblioteca Nacional

Havia sim políticos que propunham que fosse facilitado o acesso às áreas mais suburbanas da cidade. Um dos membros da Comissão Sanitária da capital, José Maria Teixeira, chegou a sugerir como medida incentivadora desta política a diminuição no preço das passagens de bondes e trens para os subúrbios, assim como a ampliação e aumento na oferta do número de horários e linhas. Acreditava-se que, desta forma haveria um maior controle e a sucessiva diminuição das represálias e greves dos trabalhadores, assim como a melhoria das condições estéticas e higiênicas do centro da cidade. O que se nota é que desde o final do século XIX o cerne da questão é a vontade política dos agentes do poder público.

É óbvio que muita coisa mudou desde de março de 1858 — quando foi concluída a etapa inicial da estrada de Ferro Dom Pedro II — até os dias de hoje. Contudo, o trem nunca deixou de ser um elemento fundamental para o suburbano carioca. Protagonista de várias histórias, desde a sua viagem inaugural — tendo como passageiros Dom Pedro II e sua família —, passando pelos vendedores ambulantes, pregadores religiosos, surfistas de trem e muitos artistas, chegando até aos famosos Trem do Samba e Trem do Choro, a reclamação pela qualidade do serviço e o preço das tarifas é uma conhecida de longa data dos cariocas.

Ponto de ônibus sem abrigo no bairro Sulacap. Mesmo irrisória, a sombra provocada pelo poste é procurada pelos usuários. Autor não identificado, 1967. Arquivo Nacional/Fundo Correio da Manhã [BR_RJANRIO_PH_0_FOT_00675_d0057de0143]

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