Cristo Redentor
“Uma grande data para o Brasil Catholico”. Assim amanheceu o jornal Correio da Manhã em 13 de outubro de 1931, um dia depois da inauguração do mais famoso monumento carioca: o Cristo Redentor. Desde então, o monumento de 30m de altura — sem contar o pedestal de 8m — no topo do Corcovado, a 710 metros de altura, se projeta sobre a cidade com um semblante sereno. Com os braços abertos como uma cruz humana, a obra — um exemplar do art-déco típico da virada dos anos 1930 —, representa a acolhida e a proteção divina sobre o Rio de Janeiro e seus habitantes. Os olhos reproduzidos sem íris ou pupila dão a impressão de que o Cristo está olhando para tudo ao mesmo tempo.
Mon. A. Cristo Redemptor, c.1935. Fundação Biblioteca Nacional
A ideia de construir uma estátua colossal de Jesus Cristo na capital do país já circulava ao menos desde 1859. Mas entre a ideia do padre Pedro Maria Boss (?-1916) — capelão do Colégio Imaculada Conceição,em Botafogo, e primeiro entusiasta da ideia —, e o início das obras do monumento religioso, em 1926, haviam se passado quase 70 anos. O projeto fora aprovado em 1922, no embalo do centenário da Independência, e desde o início contou com grande empolgação da população, havendo inclusive uma mobilização popular para arrecadar fundos para a execução das obras.
O primeiro desenho divulgado para o monumento, feito pelo engenheiro-arquiteto Heitor da Silva Costa, era bastante diverso daquele que o mundo conhece. Ao invés dos braços abertos, o Cristo original segurava um globo em um braço e uma cruz no outro. Para além do humor popular, que passou a chamar o futuro monumento de “o Cristo da bola”, a própria Escola Nacional de Belas Artes criticou a visibilidade e exequibilidade do projeto. A mudança para a icônica figura de braços abertos veio do pintor Carlos Oswald, chamado por Heitor para auxiliar no projeto. As mãos e o rosto do Cristo ficaram a cargo do escultor francês, Paul Landowski. A escolha do artista pelo do estilo art-déco, com sua simplificação para esculpir a face do Cristo, ajudaram a preservar o monumento, que conserva seus traços originais mesmo 90 anos depois.
Projeto original de Heitor da Silva Costa para o Cristo Redentor. Revista da Semana, 1º de setembro de 1923. Fundação Biblioteca Nacional
A construção foi uma façanha da engenharia nacional. Sob a chefia de Heitor da Silva Costa, o desafio logístico de levar 1.145 toneladas para o topo do Corcovado levou mais de cinco anos para ser concluído. As centenas de peças de concreto armado se encaixavam perfeitamente, e eram esculpidas artesanalmente in loco, logo após serem montadas. Mas ao contrário do que se pode imaginar, o feito da construção do Cristo Redentor envolveu pouco mais de uma dezena de operários.
O Cristo Redentor, durante sua construção, por volta de 1929. Arquivo Nacional
Para não deixar o monumento com um aspecto “seco”, Heitor da Silva Costa tem a ideia de revesti-lo de um mosaico feito de pedra-sabão, vindas direto de Minas Gerais, em pequenas pastilhas triangulares. Essa última etapa contou com o mutirão de católicas, responsáveis por colar as milhares de pastilhas em tecidos e papelões, que serviram de base para aderir as pedrinhas na estátua — e a prática de escrever nomes nessas pastilhas é um ingrediente extra nessa prática de devoção e fé: o Cristo, que guarda o Rio de Janeiro, é revestido com o nome dos seus fieis.
A imagem do Cristo compõe o horizonte carioca como nenhuma outra. O monumento, afirmou a cineasta Bel Lisboa, tem mesmo uma função de bússola para a cidade. Seja por um viés espiritual, guiando os seguidores da fé católica, seja geográfica, já que ele serve de referência para a população se orientar e saber para onde se dirigir. E vai além: ele é uma referência no imaginário do mundo inteiro sobre o Rio de Janeiro e o Brasil.
Gustavo Nacht/Unsplash