Capoeira

Três berimbaus – gunga, médio e viola –, atabaque, pandeiro e reco-reco: com esses instrumentos se forma uma bateria de capoeira. Misto de luta e jogo que se desenvolveu de forma mais efetiva no início do século XIX, o esporte é ainda hoje praticado nos quatro cantos do Rio de Janeiro, atraindo pessoas de diferentes idades, gêneros e classes sociais. Em 2014, a capoeira foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.

Não é possível estabelecer o lugar exato de origem dessa luta-jogo, mas alguns dos primeiros registros da capoeira no Rio de Janeiro datam da primeira década do século XIX (no século XVIII há bem poucos). Alguns viajantes europeus cuidaram de registrar, tanto por escrito quanto por iconografia, essa prática de matriz africana na colônia. Foi o caso do pintor alemão Johann Moritz Rugendas, que retratou o que poderia ser um jogo de capoeira na década de 1820.

Jogar capoëra ou Danse de la guerre. Johann Moritz Rugendas – 1824. Imagem em domínio público – Wikipedia

A capoeira no Rio também aparece nos registros da Intendência Geral de Polícia da Corte, criada a partir da chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808. O esporte foi considerado atividade criminosa até a década de 1930, sofrendo com a intolerância que também criminalizara outras manifestações culturais de origem africana. Mostrava-se, assim, a prática, por parte dos construtores ideológicos da nação, de extirpar a herança cultural de africanos que foram escravizados desde o século XVI.

Como a cidade ao longo do século XIX possuía uma população negra muito elevada, era comum se observar, pelas ruas, o que os jornais chamavam de maltas, ou seja, grupos, que reuniam escravizados e libertos, africanos, crioulos (negros nascidos no Brasil) e imigrantes pobres, principalmente portugueses. As maltas se espalhavam pelas freguesias e praticavam pequenos furtos, entravam em conflitos entre si e com a polícia, causando pânico em comerciantes e demais pessoas que viam a prática com maus olhos.

Após muita luta e resistência, a capoeira atualmente é respeitada como prática esportiva e elemento da cultura afro-brasileira. No Rio de Janeiro, da Zona Norte à Zona Sul, passando pelo Centro e Zona Oeste, é possível encontrar rodas de capoeira em diferentes dias e horários.

Capoeira – 1972. Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional

Os modos de jogar conhecidos hoje são Capoeira Angola e a Capoeira Regional, desenvolvidos por mestres baianos. Os chamados ‘angoleiros’ reivindicam a sua como a tradicional, com poucas diferenças da luta que era praticada pelos primeiros capoeiristas no século XIX. Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha, é o mestre principal. Já a Capoeira Regional foi criada pelo Mestre Bimba, nos anos iniciais do século XX, e une elementos da Capoeira Angola aos de outras lutas, inclusive as orientais.

Angola e Regional às vezes se aproximam entre si; em outras, distanciam-se. A primeira é um jogo sinuoso, com muitos golpes rasteiros e a prevalência da mandinga – aquele bamboleio do corpo que confunde o adversário. A prática é feita de sapato e não há troca de cordas. Já a Capoeira Regional é jogada descalça, há troca de cordas – com cerimônias de graduação semelhantes à troca de faixas em artes marciais orientais – e os capoeiristas se enfrentam em pé, porque os golpes altos têm maior prevalência entre os jogadores.

Grupo Nzinga de Capoeira Angola/Rio de Janeiro – visita do Mestre Poloca, 2017. Foto de Gabriela Montoni

Algo que as duas modalidades têm em comum é o respeito ao berimbau, ao atabaque e aos mestres. A musicalidade é peça fundamental na capoeira: não se faz uma roda sem bateria. Sempre que um novo jogador vai ao centro da roda, é fundamental que se cumprimente os músicos e os instrumentos. As músicas tocadas pela bateria ditam o ritmo dos jogos em que duplas se enfrentam com demonstrações de rabos de arraia, bênçãos, esquivas e rasteiras.

Grupo Nzinga de Capoeira Angola/Rio de Janeiro – vivência com Mestra Janja, 2019. Foto de Gustavo Andrade

É dessa expressão máxima da oralidade que partem os avisos, as contações de episódios da nossa história, os pedidos para pacificar o jogo etc. – sempre em forma de música. Temas da história do Brasil são apresentados em forma de ladainhas e corridos, como na letra de “Dona Isabel”, do mestre Toni Vargas (grupo Senzala­), cujo trecho reproduzimos abaixo:

Dona Isabel

Dona Isabel que história é essa

De ter feito a abolição

De ser princesa boazinha

Que libertou a escravidão

To cansado de conversa

To cansado de ilusão

Abolição se fez com sangue

Que inundava esse país

Que o negro transformou em luta

Cansado de ser infeliz

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