Bacias da Vertente Norte do Maciço da Tijuca
A face norte do Maciço da Tijuca, voltada para as planícies da Tijuca e Inhaúma, abriga uma intricada rede hidrográfica que molda os vales encaixados entre suas escarpas e se espraia nas áreas baixas em direção à Baía de Guanabara. Os rios Maracanã, Joana, Faria e Timbó têm suas nascentes cravadas nas encostas do maciço, em altitudes que vão de 400 a 1.000 metros, e fluem por canais livres até encontrarem a malha urbana e serem aprisionados em canais, ora retilinizados, ora subterrâneos sob o asfalto.
O rio Maracanã, o mais emblemático do conjunto, nasce em declives íngremes da Floresta da Tijuca, entre paredões rochosos recobertos pela Mata Atlântica. Em seu alto curso, ele soma fios de água cristalina que descem a parede quase vertical da Pedra da Mazomba, moldura do cenário do Bairro da Usina, com eixos de drenagem, que formam pequenas cachoeiras e poços entre blocos de gnaisse, na vertente da Pedra do Conde. São trechos vivos dentro do Parque Nacional da Tijuca, onde o ciclo das águas relembra a história do desmatamento, da cafeicultura e do reflorestamento que em momentos históricos sequenciais dominaram todas suas vertentes. Ao descer, o Maracanã perde sua liberdade, canalizado em longos trechos urbanos até desembocar no Canal do Mangue, na Praça da Bandeira, antigo Saco de São Diogo, aterrado pelas “modernizações” do Prefeito Pereira Passos. A mudança da qualidade da água, dos habitats e da própria qualidade ecológica dos trechos fluviais é absurdamente contrastante e triste. A pavimentação radical da baixada e mesmo de muitas vertentes garante o incremento do escoamento superficial sobre as fortes chuvas e, cada vez mais, chuvas menores, causam enchentes maiores na impermeabilizada Praça da Bandeira. Agindo no efeito, as construções das piscinas de retenção, investem nosso dinheiro público, no que poderia ser evitado, sob planejamento urbano.

Rio Maracanã, canalizado próximo ao Ginásio Gilberto Cardoso (Maracanãzinho)
O rio Joana, afluente direto do Maracanã, não escapa desse mesmo processo. Suas nascentes vêm do Vale do Elefante, um vale suspenso no sopé do Pico Andaraí Maior e acima da Pico do Perdido, onde o nasce o Rio Perdido, no Grajaú. Soma-se a essas águas, as vertentes do Rio do Urubu, também no Grajaú, onde encontra-se um dos maiores depósitos de bloco do Maciço da Tijuca. Hoje, tais vertentes são protegidas pela união das Unidades de Conservação do Parque Nacional da Tijuca e da Reserva do Grajaú, estadual, porém gerida pelo município. Desmatadas e recobertas por Capim Colonião até meados dos anos 80, essas vertentes foram palco de diversos projetos de reflorestamento, que graças ao esforço dos Engenheiros Florestais e trabalhadores do Projeto Mutirão Reflorestamento, recompuseram, com esse longevo esforço até hoje ativo, a franja florestal que hoje as sombreia.

Curva do Rio Joana, canalizado em seu baixo curso, pela Avenida professor Manoel de Abreu, paralela a arborizado Boulevard 28 de setembro.

Rio Joana, canalizado em seu alto curso, pela Rua Maxwell.

Nascentes do Rio do Urubu no Grajaú, formador do Rio Joana, afluente do Rio Maracanã.

Mosaico de reflorestamentos de datas e formas diferentes, representando o esforço do projeto Mutirão Reflorestamento no Grajaú, aos pés do Pico do Perdido

Figura 51 Cachoeira da Mãe D’água no Grajaú, Rio Perdido, afluente do Rio Joana
Destaque deve ser dado às cachoeiras da Mãe D’água e sua sequência para montante de diversos poços e quedas que desenham, por trás do Pico do Perdido, uma trilha de exuberante beleza. O Rio Joana, assim, exerce um papel importante na retenção hídrica e na manutenção de seus mananciais, porém, ao atingir a malha urbana, segue desgraçado por um estreito canal de cimento pela Avenida Maxwell até o estádio do Maracanã. Lá se junta com o Rio Maracanã e tem parte de seu fluxo desviado para São Cristóvão e desembocam no denso Canal do Mangue em direção à zona portuária.
Mais para norte, dois rios fundantes da história carioca formam uma grande bacia de drenagem para a Baía de Guanabara: os rios Faria e Timbó, hoje afluentes do Canal do Fundão. Porém, antes das obras de aterramento, eram dois rios que descarregavam suas águas na mesma enseada do Saco de Inhaúma, um braço de mar que adentrava o continente até quase onde hoje encontra-se o bairro de Maria da Graça. Toda a região, hoje, em direção à Baía de Guanabara, acomoda bairros sobre sucessivos aterros, até da Favela da Maré, não à toa com esse nome.

Canal do Fundão
O rio Faria, nasce na vertente norte do Maciço da Tijuca, fazendo divisão com o Vale do Elefante, anteriormente citado, e coletando contribuições fluviais de toda a Serra dos Pretos Forros, onde muitas nascentes convergem para a baixada do chamado Grande Méier, envolvendo as elevações da Serra do Engenho Novo até Benfica.
A bacia de drenagem pelo seu tamanho converge diversos córregos, que atravessam o Largo do Encantado, Engenho de Dentro e Jacaré, percorrendo trechos urbanizados já em baixa declividade. Assim como seus afluentes, o Faria já sofre com o processo de canalização em seus cursos médio e baixo, sendo capturado por obras de engenharia que alteram sua paisagem fluvial até a foz.
Seu contribuinte de bacia hidrográfica, o rio Timbó, brota de pequenas serras isoladas, desde o Morro do Juramento e das vertentes de toda a Serra da Misericórdia. São pequenos vários cursos d’água que rapidamente atingem a área plana da baixada de Inhaúma. Suas águas percorrem pequenos degraus do relevo, muitas vezes em afloramentos rochosos, que foram explorados, historicamente, pela mineração. Logo, o Rio Timbó encontra a baixada e é canalizado entre os bairros densamente ocupados. A divisão espacial do plano de ocupação dos subúrbios cariocas, garantiu uma densa urbanização com casas de belíssimas fachadas do início do século XX. Com quintais grandes, repletos de árvores frutíferas, tais casas acomodavam as famílias proletárias das fábricas recém-construídas no processo de industrialização do Rio de Janeiro. A linha do trem e as grandes estações ferroviárias prometiam a qualidade de vida desses bairros. Vida boa dos subúrbios cariocas com o assentamento de muitos imigrantes, desde o Cachambi, Maria da Graça até a Penha e Olaria, ocupando toda essa baixada até os aterros do Saco de Inhaúma, hoje substituído pelo Canal do Cunha que une os Rios Faria e Timbó em uma única saída no Canal do Fundão.