O relatório Beaurepaire

Desde a chegada da família Real (1808), a questão urbana foi tratada sob um viés higienista – presente no debate público desde o século XVIII. Defendidos por médicos sanitaristas e engenheiros, os projetos apresentavam ideias de intervenção no espaço urbano a partir da solução de problemas de salubridade e habitação: aterramento dos mangues e valas; expansão dos limites urbanos; encanamento de água e esgoto, determinação das formas de moradia e aparência dos prédios. 

Nos anos 1840, as elites e o Conselho de Estado manifestaram interesse pela realização de melhorias no centro urbano. No dia 23 de setembro de 1843, foi apresentado na Câmara Municipal pelo diretor do Departamento de Obras Municipais, o militar com formação em engenharia Henrique Beaurepaire-Rohan, o primeiro plano formal de ordenamento da cidade do Rio de Janeiro. 

Henrique de Beaurepaire-Rohan, responsável pelo primeiro plano de ordenamento da cidade – c. 1890. Wikimedia Commons.

O relatório deixava explícito que o crescimento desordenado estava alinhado às questões de saúde pública e que, para atingir o progresso e a esperada “sociedade civilizada”, era preciso reorganizar toda a cidade do Rio de Janeiro. O documento resumia bem as preocupações da época: salubridade e beleza, pois estava dividido em salubridade pública e “aformoseamento da cidade”. No diagnóstico se verificou a defasagem entre o progresso econômico e as limitações da cidade, fatores que envolviam, para além da insalubridade, o descompasso gerado pelo crescimento populacional – fruto das migrações – e denunciavam os limites dos serviços públicos – como o abastecimento de água, ainda realizado pelos chafarizes públicos. Para resolver os problemas com água e esgoto, Beaurepaire propôs a implantação de encanamentos que saíssem dos rios Carioca e Maracanã e abastecessem todas as casas.

Chafariz da Carioca. Ludwigg e Briggs, litogravura de 1845. Acervo BN Digital

Entre as propostas do projeto, que se alinhava ao discurso higienista, estava a necessidade de demolição do Morro do Castelo – que contribuiria para a extensão do perímetro urbano -, a arborização das ruas, que promoveria o embelezamento e favoreceria a circulação de ar; estabelecimento de cemitérios nas vizinhanças da cidade, gerando o fim das sepulturas nas igrejas, além da transferência do Matadouro da cidade para São Cristóvão. 

Sobre as ruas, praças e edificações, o relatório propunha ampliação e abertura de novas ruas, com medidas padronizadas, quarteirões geometricamente regulares e a remodelação dos edifícios no que diz respeito à forma e aparência. Além disso, o engenheiro indicou a criação de oito novas praças, retomando o projeto do arquiteto Grandjean de Montigny para reformulação do Campo de Santana e a construção de edifícios públicos em seu entorno. 

A expansão da cidade também apareceu no relatório, que previa as ligações com as áreas de Botafogo (abertura para a ocupação da orla), São Cristóvão e Engenho Velho (caminho para o Alto da Boa Vista, passando por Tijuca e Andaraí), favorecendo a consolidação da Cidade Nova e da Praça XI a partir do aterro do Mangue de São Diogo. 

Embora seu Plano não tenha sido aprovado pela Câmara, muitas das propostas nele contidas foram implementadas posteriormente tais como a transferência do matadouro público para São Cristóvão, a construção de encanamentos de água através dos rios Maracanã e Carioca e a instalação de uma rede de esgoto. Onze anos depois da apresentação do Plano, uma rede foi instalada em parte da cidade pela empresa inglesa “Rio de Janeiro City Improvements” e o Rio tornou-se a primeira cidade da América Latina a possuir uma rede domiciliar de esgoto.

O Matadouro de São Cristóvão (1853) e seu único vestígio, o pórtico  restaurado, hoje na Praça da Bandeira. Foto de Augusto Malta, década de 1920. Site Inventários dos Monumentos RJ.

 

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