Adeus à Praia de Inhaúma
Em 1901, o então prefeito do Rio, Xavier da Silveira, realizou um passeio de barco pelo litoral carioca. O evento foi noticiado pela imprensa do período, como no Jornal O Paiz, que ainda apresenta uma descrição da região. Saindo do Cais Pharoux, na Praça XV, o prefeito e sua comitiva foram tomar conhecimento das instalações do Hospital São Sebastião, na Ponta do Caju. Em seguida, foram para o Porto de Maria Angu na embarcação ‘Sampaio Vianna’, em um percurso entre praias e ilhas do que hoje são a Maré e a Ilha do Fundão. A viagem “durou 50 minutos, sendo, porém, amenizada pela bella paizagem, pois não poucas e encantadoras ilhas teve de beirar o Sampaio Vianna”. A reportagem fornece ainda mais detalhes do trajeto e, a respeito do porto de Maria Angu, diz que “grande serviço presta à pequena lavoura da Penha, Irajá e Inhaúma, que ahi faz o seu ponto de embarque.”
A reforma e modernização do porto do Rio no início do século XX – que aumentou sua extensão da Praça Mauá até a Ponta do Caju –, centralizou o embarque e desembarque de mercadorias num único ancoradouro, moderno e mais próximo do que se tornou o centro urbano do Rio de Janeiro. Isso causou o abandono decadência dos portos menores espalhados pela orla norte da Baía de Guanabara, formados por trapiches e com base no trabalho manual (durante muito tempo feito pelos escravizados), e que aos poucos foram deixados aos pescadores.
A antiga região de fazendas, chácaras e natureza – que desde o tempo de D. João VI e sua casa de banhos era utilizada para retiros terapêuticos – passou a ser cada vez mais destinada a atividades de suporte ao conjunto da cidade e do país, com vias expressas, depósitos de dejetos e estação de tratamento de esgoto, por exemplo. Desde o tempo da Casa de Banhos de Dom João VI, na Praia do Caju, o clima ameno, a exuberante vegetação e a salubridade da Baía de Guanabara tornavam a área propícia para a o retiro com fins terapêuticos, com a instalação de hospitais.
A Planta da Cidade do Rio de Janeiro, elaborada pela Diretoria Geral de Obras e Viação da Prefeitura, em 1913, mostra o litoral norte da cidade (parte inferior da imagem). É possível identificar as ilhas dos Ferreiros, da Sapucaia, dos Pinheiros, de Bom Jesus e do Fundão, que nos anos 1940 foram unidas por aterros para abrigar a Cidade Universitária. A obra acarretou no impedimento de uma melhor circulação da água, causando o assoreamento e a poluição da baía. Bem antes disso, essas ilhas eram margeadas por águas limpas, mangues e florestas que compunham a micro-baía de Inhaúma – também chamada de Saco de Inhaúma e que foi desconfigurada, após sucessivos aterros.