A peste bubônica (1900 – 1906)

No início do ano de 1900, a confirmação do primeiro caso de peste bubônica no Rio de Janeiro desencadeou medidas de contenção da doença semelhantes às ações colocadas em curso em epidemias anteriores. As operações envolviam a desinfecção de moradias e o isolamento de doentes e suspeitos de contaminação pela bactéria Pasteurellapestis, transmitida pela pulga do rato. Os navios que chegavam aos portos da capital da República eram submetidos aos resguardos, apesar das consequências econômicas negativas. Ainda assim, a partir de abril, novos casos foram diagnosticados e a doença continuou a se alastrar pela cidade. 

O soro e a vacina antipestosos eram importados da Europa, então, para acelerar a produção e possibilidade de ampliar a aplicação foi criado o Instituto Soroterápico Federal. Seu laboratório foi construído na Fazenda de Manguinhos, que pertencia à prefeitura e se localizava na zona norte da cidade. Integrando a equipe técnica do Instituto estava o médico sanitarista Oswaldo Cruz. 

 
“Praga do povo” – charge sobre as manifestações populares de resistência às medidas de higienização da cidade. Acervo: Fundação Oswaldo Cruz

Com a eleição de Rodrigues Alves em 1902, a atenção do poder público naquele momento se dirigia ao plano de modernização da capital. O projeto previa uma reforma urbana e a erradicação das epidemias de febre amarela e varíola que assolavam o Rio de Janeiro – às quais a da peste bubônica se juntaria. A peste, relacionada ao imaginário dos males medievais, precisava ser controlada, o que forçou um direcionamento de recursos do governo para a saúde pública e pesquisa. Oswaldo Cruz, além de atuar como pesquisador do recém criado Instituto Soroterápico, assumiu a frente da Diretoria Geral de Saúde Pública, em 1903. Sua dupla função pública pôde alinhar às frentes de combate às epidemias: de um lado, pesquisa e produção do sérum profilático e, de outro, desenvolvimento das campanhas sanitárias e de higienização da cidade, com ações diretas de combate aos agentes transmissores e fiscalização das áreas de foco.

Instituto Oswaldo Cruz, 06/1904. Acervo: Fundação Oswaldo Cruz

Em face das campanhas contra a febre amarela e a varíola, o empreendimento contra a peste bubônica foi melhor aceito pela população, com mais eficácia no tratamento por soroterapia que a vacinação das pessoas. Além disso, no auge da epidemia, em 1903, foi tomada uma medida que mobilizou a cidade. O governo passou a remunerar as pessoas que apresentassem ratos mortos aos órgãos públicos. A caça aos ratos, principais transmissores da doença, parecia um bom negócio. Além da coleta dos animais nas ruas, ficaram conhecidos à época os criadouros de ratos para serem entregues à incineração. Em meados de 1904, a suspeita da prática ludibriosa fez com que o comércio de ratos fosse brevemente suspenso. No entanto, o consenso em torno da eficácia da eliminação dos animais logo fez o governo retomar a prática.

“O comprador de ratos” – detalhe da foto – Revista da Semana, 11.08.1904. Hemeroteca Digital BN

Acompanhando as ações de desinfecção, isolamento e tratamento por soro, a caça aos ratos acabou surtindo efeito. Na medida em que mais ratos eram capturados, o número de óbitos decrescia. A epidemia foi perdendo força ao longo dos anos e, em 1906, a peste bubônica foi erradicada. 

Charge – Jornal do Brasil, 11.08.1904. Hemeroteca Digital BN

Este texto foi elaborado pela pesquisadora Helena Gomes do Projeto República (UFMG).

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