A nossa Taquara
Autora: Leticia Marinho
Quem sou eu sem dizer de onde venho? Estudo no Leblon e quando falo sobre meu bairro, as pessoas me olham com dúvida, e quando alguns lembram, dizem que sou boba por estudar tão longe. Não é de hoje que sabemos sobre a atual situação do ensino público, mas nunca deixei de levar comigo, pra onde for, quem sou eu e o que me fez ser assim. A comida, as lembranças da infância, as idas ao mercado da rua vizinha… tudo me trás um enorme sorriso!
É tão confortador e alegre lembrar das corridas no dia de São Cosme e Damião. As crianças se juntavam e andavam pelo condomínio inteiro, várias vezes, as pessoas que vinham de carro porque sabiam que sempre estávamos aqui esperando por um saquinho de balas. Na minha rua, um senhor devoto sempre jogava dinheiro, dava um saco bem recheado de doces e ainda distribuía brinquedos. No final do dia, já estávamos enjoados de tanto doce, mas o cansaço era gratificante.
Sou nascida e criada na Taquara, já pensamos várias vezes em sair do condomínio onde moramos mas nunca deste bairro. Minha mãe é apaixonada por esse lugar e minha avó, nem se fala, a família toda está por perto e é só atravessar a rua, que encontramos mais um lanchinho.
Nunca fui muito de sair de casa, mas lembro das diversões em família e dos diversos doces que eu, minha avó e minha mãe fazíamos nos aniversários infantis.
Quando cresci, acabei saindo pra estudar fora da minha região de costume. Não foi fácil, mas não posso deixar de agradecer pelas inúmeras oportunidades que tive e as pessoas que me mostraram um caminho incrível. Vou e volto todos os dias, entre a Taquara e o Leblon são quase duas horas de viagem, mas chegando perto do ponto, sinto um alívio gigantesco em saber que cheguei na minha casa. Vários familiares meus, durante anos, fizeram esse mesmo trajeto porque estudaram na mesma escola que eu.
Meu pai e minha mãe moravam no mesmo condomínio mas nunca se encontraram, curiosamente acabaram se conhecendo. Os dois eram apaixonados
pelo vôlei da pracinha e cursavam Direito na Universidade do bairro. É engraçado andar por aqui, todos me conhecem e associam eu e a minha irmã aos meus pais, contando as histórias que passaram com eles na infância e na adolescência. Brincamos na mesma quadra em que eles se divertiam há 30 anos atrás, nada mudou mas, ao mesmo tempo, mudou tanto.
Tenho tanto coisa pra dizer, mas fico sem palavras pelo emaranhado de sentimentos que sinto. BRT, cachorro-quente do Tião, Mercadinho Carioca, Ação Comunitária da Vitor Meireles, Sorveteria do Menguele, Capoeira do Mestre Barba… Não dá pra contar nos dedos a quantidade de vantagens que é ser moradora da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Minha vontade agora é comer um angu à baiana da praça enquanto escrevo.
É incrível ser carioca. Ter esses costumes, esse sotaque, o amor pelo lugar de onde viemos e não ter vergonha, é sem dúvida, uma dádiva!