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Jango faz discurso no Automóvel Clube

30 de março de 1964

Álvaro Camara de Pádua

“Presidente, tudo pronto, o esquema já entrou em execução”. Este foi o comunicado do general Assis Brasil, chefe da Casa Militar, a João Goulart, enquanto este aguardava para se deslocar até a sede do Automóvel Clube, no centro do Rio. Lá, o presidente seria homenageado na comemoração dos 40 anos da Associação de Sargentos e Suboficiais da Polícia Militar. Mas o clima de tensão era inegável. Momentos antes, ainda no Palácio das Laranjeiras, o deputado udenista Tenório Cavalcanti teria agarrado Jango pelo braço para tentar impedi-lo de ir ao encontro. Dizia que os inimigos do presidente estariam de prontidão para explorar o desrespeito à hierarquia militar e que o Estado-Maior do Exército, chefiado pelo general Castello Branco, havia dado ordens aos comandantes para deixar a tropa em estado de prontidão.

Apesar dos alertas de amigos e conselheiros, Jango parecia acreditar ter respaldo do chamado “dispositivo militar” – política atribuída ao general Assis Brasil que consistia na nomeação de oficiais confiáveis para comandos estratégicos. Em razão disso, dirigiu-se ao Automóvel Clube, onde era aguardado por um público de aproximadamente duas mil pessoas. Na plateia, composta em sua maioria por sargentos, suboficiais e seus familiares, encontravam-se ministros civis, os três comandantes das Forças Armadas e muitos marinheiros, cabos e fuzileiros navais. O caldo estava prestes a entornar.

Lideranças civis e militares se alternaram no microfone naquela noite, a exemplo de Abelardo Jurema, ministro da Justiça, e do cabo Anselmo, líder da recente revolta dos marinheiros. O clima no auditório era de festa, como avaliou Jurema, “tudo tinha o calor e o aspecto de uma marcha para a vitória”. Às 22h começou o discurso mais aguardado, Goulart assumiu o microfone. Em um discurso improvisado, onde aparentava estar fora de si, o presidente alegava que não era um comunista, e sim um nacionalista. Durante aproximadamente uma hora e meia, abordou tópicos espinhosos como as reformas de base, o uso político da religião e sobretudo a crise militar. Ali, Jango disse suas últimas palavras públicas como presidente, a poucas horas das primeiras movimentações militares para o golpe, ainda madrugada do dia 31 de março de 1964.

Sargentos prestam continência a Jango em razão de sua chegada ao Automóvel Clube. Rio de Janeiro, 30 de março de 1964. Autor desconhecido. Fundo Correio da Manhã / Arquivo Nacional.

Expressões faciais de João Goulart discursando no Automóvel Clube. Rio de Janeiro, 10 de abril de 1964. Autor desconhecido. O Cruzeiro (recorte de jornal)/Arquivo Nacional.

Jango, à direita, em reunião no Automóvel Clube, 30 de março de 1964. Foto de Ferreira. Fundo Correio da Manhã / Arquivo Nacional

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