Pode parecer irrelevante, à primeira vista. Mas na história das nossas cidades, este gênero de edificação é dos que muitas vezes sobrevive, passando por reformas, adaptações que podem deixar poucos traços de suas origens à vista... mas seguem lá. Você se recorda de algum edifício, no Rio, onde tenha funcionado uma oficina ou garagem de bondes?
As garagens e estações ficavam distribuídas pela cidade. Muitas delas originaram-se em período anterior à entrada da Light nesse negócio e eram do tempo em que havia muitas outras empresas explorando concessões em distintos trechos das vias. A partir de 1907, a Light começou a promover reformas na garagem da Companhia Ferro Carril de Vila Isabel, uma das empresas recém adquiridas cujas instalações ficavam ao final da atual avenida Presidente Vargas – onde hoje há um conjunto habitacional, próximo ao acesso ao elevado Paulo de Frontin. Mas logo partiu para outro projeto, em extenso terreno entre o Boulevard 28 de Setembro e a rua Torres Homem em Vila Isabel, onde implantou uma garagem e uma oficina para fabricar os bondes, entre outras atividades, diminuindo assim as necessidades de importação daqueles carros. Fotografia das antigas oficinas da Brasilianische Elektricitäts Gesellschaf, proprietária do sistema de bondes de Vila Isabel anterior à Light.
Aqui, uma fotografia da garagem de bondes do Largo dos Leões, no Humaitá, Botafogo. Esta fachada era voltada para a rua Voluntários da Pátria. Nesse terreno está hoje instalada a Cobal – um mercado de produtos hortifrutigranjeiros inaugurado em 1971, que também abriga outras lojas, além de bares, cafés e restaurantes – e a escola municipal Joaquim Abílio Borges, na esquina da rua Marques com a Humaitá.
No detalhe, pode-se melhor apreender aquele instante... são tantos os elementos, entre os móveis e os imóveis... e à esquerda, vê-se a esquina da rua Capitão Salomão. À direita da via e junto ao muro, próximo da luminária, há uma placa onde se lê: “Vendem-se trilhos usados. [ilegível] no Largo do Machado das 11 às 2 horas.”
Aspecto da estação e garagem de São Cristóvão. Ali funcionava, ainda, o escritório do Departamento de Construção.
Aspecto da garagem de bondes de Copacabana, ao lado do Hotel Malvino Reis, situado na praça de mesmo nome, atual praça Serzedelo Corrêa, em Copacabana.
A estação do Largo do Machado estava instalada no antigo edifício sede da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico.
Nesta fotografia, vemos um aspecto das instalações à rua Arquias Cordeiro, Méier, onde existiu uma estação de bondes cuja garagem localizava-se na parte de trás. Atualmente, na frente do terreno está uma agência da Inspetoria Regional de Fiscalização e, ao fundo, está o terminal rodoviário Américo Ayres. Ao fundo e à direita, o morro do Dendê, em Madureira. Ao fundo e à esquerda, o Monte do Cardoso Fontes, que está inserido no contexto da Floresta dos Pretos Forros, área do Parque Nacional da Tijuca – um divisor natural entre os bairros da Zona Oeste e o Grande Méier.
Aspecto de um dos edifícios da garagem da estação do Méier. Ao fundo e à esquerda, o imponente relevo do Parque Nacional da Tijuca. Tomando como referência a imagem anterior, esta fotografia foi feita na direção à esquerda daquela foto, onde a extremidade de um galpão aparece sob a árvore maior, à esquerda. É o que vemos na imagem.
Já abordamos as garagens – algumas delas com a dupla função de estações. A seguir, veremos imagens de instalações que serviram como estações, apenas. A Light adquiriu o Hotel Avenida da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico, juntamente com as linhas de bonde, e concluiu a sua construção em 1910. Foi um dos primeiros edifícios com elevadores elétricos, além de telefones em todos os andares. Ao nível da rua, a célebre Galeria Cruzeiro atravessava o edifício nos dois sentidos; da avenida Central (atual Rio Branco) até o largo da Carioca, nos fundos. E lateralmente, da rua São José à Bittencourt Silva, onde hoje há um acesso à estação Carioca do metrô. Funcionava ali, ainda, uma estação de bondes para a Zona Sul.
Por toda a cidade, ao longo das linhas de bondes havia paradas devidamente sinalizadas. Mas em alguns logradouros havia as estações – espaços de convivência, de sociabilidade. Nesta imagem, a estação de bondes à rua Real Grandeza, em Botafogo, na esquina com a rua Pinheiro Guimarães, vendo-se ao fundo o morro de São João, à esquerda, e o morro da Saudade, à direita.
Uma estação de bagagem da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico à rua São Gonçalo, hoje avenida Almirante Barroso, no Centro. À esquerda, uma parte do edifício do Clube Naval, à rua Vieira Fazenda, e um detalhe dos fundos do Teatro Municipal.
No detalhe da fotografia, pode-se observar que todos os presentes à estação posam para o fotógrafo. Bem ao centro da imagem, em primeiro plano, um vendedor ambulante de alimentos. À direita, o bonde caradura ou taioba, que ia em direção ao Humaitá e Gávea, levando passageiros e bagagens por um preço módico.
Nesta fotografia, a fachada de uma estação de bondes no Engenho Novo, provavelmente na rua Barão do Bom Retiro. A legenda diz “passenger waiting station”, ou seja, aquele era um dos espaços de espera e, portanto, de sociabilidade, além de abrigar um ponto da Companhia Telefônica Brasileira, como indica a placa sobre a porta da esquerda. A fotografia contém muita informação e suscita muitas indagações; vale examiná-la com atenção. Além de ser servido pelo bonde que vinha através de Vila Isabel, o Engenho Novo era, e segue sendo, servido pelo trem que vem da Estação Central do Brasil.
Não poderíamos encerrar esta seção sem mencionar esta antiga estação de bondes ainda em atividade na cidade, originalmente denominada Estrada de Ferro Carril Corcovado. A Light obteve para si a transferência daquela concessão, originalmente sob a responsabilidade de um grupo inglês, que operava desde 1884 os trens movidos a vapor entre o Cosme Velho e o alto do Corcovado – onde havia um mirante, o Chapéu do Sol, desde 1885. O antigo Hotel Paineiras também entrou na negociação. A Light reformou-o e eletrificou a linha do trem. A partir de 1931, com a inauguração da estátua do Corcovado, a fama daquele percurso consolidou-se internacionalmente.
No detalhe, tirado da fotografia anterior, fica a nossa homenagem aos taxistas do Rio. Ali estavam eles, os ‘choferes de praça’, prontos a atender os usuários da Estrada de Ferro do Corcovado. Antes deles, havia os cocheiros e suas charretes. A partir de 1908 os automóveis teriam começado a utilizar os taxímetros e a disputar aquele mercado.