A rapidez das mudanças que acontecem na cidade do Rio é impressionante: monumentos, edifícios e praças são erguidos e destruídos num piscar de olhos. Profissões, lojas e hábitos vão embora muitas vezes sem registros. Várias dessas narrativas foram recuperadas nessa galeria, assim como a história de pessoas que tiveram suas vidas subtraídas de forma inesperada.

Curadoria: Antonio Edmilson Rodrigues

Como se constrói uma cidade moderna? Há várias maneiras possíveis, mas o Rio de Janeiro do fim do século XIX e início do XX fez uma opção: enterrar tudo o que não “servia” ao propósito civilizatório que se pretendia para a capital no imediato pós-abolição. Os mais de 350 anos de escravidão e todos os horrores que derivam dessa instituição foram soterrados, como se pudessem ser esquecidos. A cidade mira o futuro, mas o passado recente, enterrado em uma cova rasa – “à flor da terra” – não se apaga com facilidade.

A Cidade Maravilhosa também é feita de escombros. Bota-abaixo de prédios e remoções se fundem a tragédias e a obras do descaso, varrendo do mapa símbolos tão raros quanto o Palácio Monroe, que já foi importante cartão-postal. Ou transformando em cinzas provas irrecuperáveis de nossa história, como era o acervo do Museu Nacional.

Dentro ou fora das telas, o Rio tem vocação para o cinema. Cenário usual para filmes — e até protagonista de alguns —, a cidade resguarda os rastros deixados pela sétima arte. O frenesi do écran, o mistério do cinemascope, a novidade do som, a cultura reproduzida nas telas. Estúdios pioneiros, cinemas de rua, quarteirões devotados ao prazer das películas, plateias em rebuliço. Parte dessa história virou ruína; mas outra parte ampara a inventividade que ainda pulsa no cinema brasileiro de hoje.

O ruído musicado da faca sendo amolada na pedra. A memória divertida das escadas rolantes da Sears. Os cheiros e texturas da Casa Cruz. O lamento pelo sumiço das impressionantes estruturas de ferro do Mercado Municipal, varrido do mapa. O comércio também dá ritmo e vida à cidade — e, por vezes, a criva de saudades.

Bota-abaixo de morros, aterros, remoção de comunidades. Poucas cidades no mundo tiveram a sua paisagem natural tão modificada e traços de sua cartografia humana tão facilmente apagados quanto o Rio. No lugar de enfrentar a questão habitacional, remove-se aquilo que incomoda.

As condições de desenvolvimento da mobilidade urbana da cidade do Rio de Janeiro tinham como obstáculos, especialmente, sua topografia. Para tentar dar conta da melhoria da circulação, foram realizadas inúmeras tentativas com as construções de túneis e avenidas e novas formas de transportes. Muitas dessas tentativas foram por água abaixo. Por um lado, porque reformistas visando à modernização da cidade viam que certos meios de circulação impediam o progresso e atrapalhavam a mobilidade – como no caso dos bondes. Ou, ainda, porque o transporte público se tornou uma mina de ouro para os empresários dos transportes coletivos, como os ônibus.

Nem só de praia e samba vivem os cariocas nos fins de semana. Pelo contrário: a história do entretenimento no Rio é pródiga em modismos. Quem tem mais de 30 anos e nunca suspirou de saudades do Tivoli Park, afinal, que atire a primeira pedra. Além do famoso parque, que ficava às margens da lagoa Rodrigo de Freitas, drive-ins e tobogãs gigantes marcaram época, assim como o Circo SDRUWS.

Quem passa hoje pela avenida Franklin Roosevelt, com seus prédios e buzinas a margearem parte do centro do Rio, não pode imaginar que ali, no passado, o que havia eram as águas calmas da praia de Santa Luzia, exemplo de balneário que não existe mais. A história do Rio é crivada de praias que, como essa, sumiram do mapa, não pela cadência natural de ventos, ondas e areia, mas sim pelo afã das autoridades em intervir no espaço urbano.

Também é de sangue e horror a matéria que dá forma à história carioca. Os contornos exuberantes desse balneário solar, famoso pela alegria de suas festas, estão assentados sobre uma engrenagem de segregação e violência que não para de fazer vítimas. Marielle Franco, vereadora assassinada com seis tiros na cabeça; Rubens Paiva, torturado e executado pela Ditadura Militar; os meninos da Candelária, emboscados na chacina da calada da noite. Vidas roubadas pelo autoritarismo, pelo racismo e pela impunidade.

Nem só de praia, sol e caipirinhas vive o carioca. A noite do Rio esconde surpresas. Ecos de um passado glorioso em que o balneário tratou de inventar modismos e ocupar espaços onde varar a madrugada, tramando com criatividade e sotaques cheio de “rrr” um jeito boêmio e sofisticado de aproveitar a vida.

Picadinho. Angu. Tapioca. Filé a Oswaldo Aranha. Sacolé. Feijoada. Mate gelado. Sopa Leão Velloso. Podrão. Acepipes variados fazem a fama da alta e da baixa gastronomia carioca, impulsionando a farra de comensais em refinados redutos gastronômicos, nos incontáveis pés-sujos que pululam pela cidade, nos quiosques e biroscas, na rua, no trem ou na intimidade dos lares.

O Rio de Janeiro foi palco primordial para a estruturação da imprensa no país. E foi também cenário elementar para as transformações políticas, culturais e sociais que o jornalismo tentou flagrar. Ora transgressora, ora conservadora. Ora debochada, ora inventiva. A imprensa carioca teve páginas de riso e de horror. Teve de quase tudo. Menos monotonia.

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