Remoção forçada da favela Getúlio Vargas, no Leblon
Igor B. Cardoso
Os protestos contra a remoção da Favela do Pasmado não sensibilizaram a política adotada pelo governador da Guanabara, Carlos Lacerda. Comandada por Sandra Cavalcanti, a Secretaria de Serviços Sociais despejou 116 famílias que viviam na favela Getúlio Vargas, no bairro do Leblon. Os moradores foram enviados para a Vila Kennedy, em Bangu, e para os Parques Proletários do Leblon e da Gávea.
A remoção iniciada às 7h da manhã foi intensa e contou com a presença de Magarino Torres, advogado que havia participado da regularização da posse de terras do Morro do Borel na década de 1950 e que culminou com a criação da União dos Trabalhadores Favelados. Torres buscou convencer os moradores a permanecer na favela, mas acabou preso por ordem do próprio governador. O advogado ainda acusou Sandra Cavalcanti de promover a compra de barracos em favelas para abrigar funcionários públicos, com o intuito de dar a impressão de que os próprios moradores estavam de acordo com a transferência para os conjuntos.
A demolição da favela foi justificada pelo o objetivo de construir uma via para ligar a avenida Mário Ribeiro à Visconde de Albuquerque e facilitar o acesso ao Hospital Miguel Couto. Apesar do argumento utilizado, Carlos Lacerda e Sandra Cavalcanti não esconderam o desejo de excluir a parte mais pobre da população das áreas melhor servidas de infraestruturas e serviços da cidade. Para a Secretária, a convivência entre favelados e a “comunidade economicamente bem-sucedida” era um “choque de culturas, desejos e aspirações”. Com o fim do governo udenista na Guanabara, tanto Lacerda quanto Cavalcanti passaram a compor equipes de imobiliárias e incorporadoras, lucrando com a construção civil.
Remoção da favela Getúlio Vargas, seguindo a traumática desocupação de Pasmado. Rio de Janeiro, Sem Data. TV Tupi. Fundo TV Tupi / Arquivo Nacional.
Remoção de moradores da Favela Getúlio Vargas. Rio de Janeiro, 14 de março de 1964. Marco Aurélio Manoel. Fundo Correio da Manhã / Arquivo Nacional.
“Advogado preso na mudança da favela”. Rio de Janeiro, 15 de março de 1964. Fundo Correio da Manhã / Fundação Biblioteca Nacional.