Ranieri Mazilli se reúne com “Comando Supremo da Revolução” no Palácio Duque de Caxias para anunciar a composição ministerial do governo provisório
3 de abril de 1964
Danilo Araujo Marques
Na manhã de 3 de abril de 1964, o presidente interino Ranieri Mazzilli deixou Brasília rumo ao Rio de Janeiro. Seu destino: o Palácio Duque de Caxias, sede do Ministério da Guerra, para um encontro com o autodenominado Comando Supremo da Revolução, liderado pelo general Artur da Costa e Silva.
Apenas dois dias antes, ainda na noite de 1º de abril, Costa e Silva havia realizado uma manobra política audaciosa. Em uma tentativa de tomar o protagonismo dos acontecimentos e fazer frente ao grupo que conspirava sob o comando do general Castello Branco, ele se autonomeou comandante em chefe das Forças Armadas e constituiu uma junta militar – o chamado “Comando Supremo da Revolução”. Mas a movimentação de Costa e Silva tinha ainda um objetivo mais cirúrgico: centralizar o controle do Estado pelas Forças Armadas.
Foi neste cenário que Mazzilli seguiu para o Rio. Às 11h35, seu avião pousou na 3ª Zona Aérea do aeroporto Santos Dumont. Mal terminado o desembarque, passou em revista a tropa da Força Aérea Brasileira e anunciou uma coletiva de imprensa para as 16h no Palácio das Laranjeiras.
Contudo, o principal destino da viagem era outro. No Palácio Duque de Caxias, Mazzilli foi recebido por Costa e Silva e os outros membros do “Comando Supremo da Revolução”: o almirante Rademaker Grünewald e o brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo. Após uma longa reunião a portas fechadas, todos os planos foram alterados e a prometida coletiva de imprensa teve que acontecer ali mesmo, no gabinete do ministro da Guerra. A partir das 23h, Ranieri Mazzilli anunciou a composição do novo ministério: Otávio Bulhões na Fazenda, Gama e Lima na Educação e Arnaldo Sussekind no Trabalho.
Mas quem estava ali logo percebeu que o poder real pendia para outro lado. A presença de Costa e Silva, Rademaker e Correia de Melo deixava clara a nova ordem. O anúncio da manutenção dos três comandantes em seus postos era mais que uma decisão administrativa – sinalizava, de uma vez por todas, o controle militar sobre o governo.
Enquanto Mazzilli mencionava a aceleração do processo de escolha do novo presidente pelo Congresso Nacional, os olhares se voltavam para Costa e Silva. O general sabia que sua artimanha o colocara em posição de destaque no novo cenário político.
A coletiva no Palácio Duque de Caxias terminou tarde e Mazzilli se preparou para retornar a Brasília. Não como um presidente em plenos poderes, mas como um mero representante da transição para um governo que, para todos os efeitos, já estava nas mãos dos militares.
Rio de Janeiro, 3 de abril de 1964.Fotógrafo desconhecido. The Life Picture Collection / Getty Images / Wikimedia Commons



