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Palácio da Guanabara vira trincheira de guerra

31 de março de 1964

Anna Carolina Viana 

 No final da tarde, em 31 de março de 1964, a cena avistada em frente ao Palácio da Guanabara tinha elementos que remontavam a uma situação de guerra: policiais militares cumpriam a convocação de Carlos Lacerda, à época Governador da Guanabara, que, rodeado de apoiadores, preparava um esquema de defesa para a sede do governo. Lacerda mandou erguer barricadas na entrada do Palácio e ordenou que caminhões de limpeza fechassem as vias que davam acesso ao local. Por volta de 18h30, o governador da Guanabara entrincheirou-se no interior do palácio.

A ação, na verdade, era mais performática do que efetiva: o Palácio não estava sob ataque. É certo que, mais cedo, naquele dia, João Goulart tomou providências diante da movimentação de tropas golpistas que havia se iniciado em Juiz de Fora: ordenou que militares leais ao governo marchassem ao encontro das guarnições lideradas por Olympio Mourão Filho para impedir seu avanço sobre o Rio. Soldados da polícia do Exército foram enviados para cercar o Palácio das Laranjeiras, residência oficial do presidente no Rio, onde estava Jango, e aumentar a sua segurança. Entretanto, nenhuma tropa foi direcionada para o Palácio da Guanabara. 

Tratava-se de medir forças com Goulart. Como governador, Lacerda tinha a Polícia Militar do estado da Guanabara sob seu comando e, ao mobilizar o efetivo policial desejava impor seu protagonismo como representante da oposição ao presidente. Além disso, ele estava de olho nas eleições presidenciais de 1965 e acreditava que, assumindo a liderança civil do movimento golpista, aumentaria as suas chances de vencer o pleito pela União Democrática Nacional (UDN). Com a saída das tropas de Juiz de Fora, era preciso estar atento: a outra opção do partido para 1965 era Magalhães Pinto, governador de Minas Gerais, que agora tinha a oportunidade de assumir a vanguarda da movimentação.

Mas Lacerda não deixou por menos. Conseguiu aumentar o clima de beligerância no Rio e chamar para si a atenção da mídia: mesmo sem recrutar voluntários, “centenas de pessoas, dispostas a defender a sede do Executivo carioca”, foram até o Palácio em apoio ao Governador – noticiou a Revista Manchete. Apesar do apoio ao golpe de Estado, os militares não corresponderam às suas expectativas e Lacerda não viveu para ver o país escolher um novo presidente da República. Eleições diretas aconteceriam apenas 25 anos depois.

Revista Manchete, “Edição Histórica”, abril de 1964, ed. 265. Fotógrafo desconhecido. Hemeroteca Digital / Fundação Biblioteca Nacional

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