O Ano Novo de 1964
Gabriel Arruda
No dia 1º de janeiro de 1964, o Correio da Manhã noticiava: “o ano velho se foi. […] Ninguém se lembra mais das mazelas de 63. Ceia, champanhe, grito de carnaval, […] vamos todos para a praia”.
De fato, muito se festejou naquele réveillon. Um grande baile reuniu mais de 3 mil pessoas, como figuras da alta sociedade e autoridades, nos salões do hotel Copacabana Palace. Os bailes da zona sul traziam uma novidade: substituíram a tradicional “Cidade maravilhosa”, de André Filho, pelo Hino Nacional na abertura dos festejos. Os clubes da zona norte não funcionaram em protesto aos altos custos das orquestras de baile. As praias ficaram repletas de turistas e das tradicionais oferendas à Iemanjá. Uma chuva de papel picado caía nas ruas do centro do Rio em comemoração ao ano que nascia.
Em seu discurso de Ano Novo, o presidente João Goulart afirmava: “só resta um caminho para manter o surto de expansão econômica e assegurar a tranquilidade social do país” – eram as reformas de base. Recebeu os cumprimentos de Jair Dantas, Ministro da Guerra, e declarou: “sentimos que o Exército, mercê de sua tradição democrática e nacionalista, constitui hoje […] uma instituição acatada com simpatia em todas as camadas da sociedade brasileira”.
Leonel Brizola, Deputado Federal pela Guanabara, alertava que o cenário político brasileiro poderia caminhar “para o estado de sítio, […], para as restrições das liberdades públicas e individuais, […] para o golpe e a ditadura”.
Já o astrólogo Omar Cardoso afirmava que “teríamos uma revolução no Brasil”, pois haveria uma “substituição de formas de governo”. Para o vidente, “a mesma conjunção astral que houve na Rússia em 1917 haverá no Brasil em 1964”.
Irônica previsão fazia também o Jornal do Brasil, que no primeiro dia do ano errou a data da tiragem de sua publicação: o cabeçalho até registrava o dia 1º de janeiro, só que de 4 anos depois, 1968.
Fotos dos festejos de Ano Novo. Rio de Janeiro, 1º de janeiro de 1964. Última Hora/ Hemeroteca Digital – Biblioteca Nacional, página 05
Após o discurso de ano novo, o Presidente João Goulart propõe “um brinde às reformas de base”. Foto de Jankiel. Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1963. Revista Manchete/ Hemeroteca Digital – Biblioteca Nacional, página 13
Foto do astrólogo Omar Cardoso publicada na revista Manchete. Autoria desconhecida. Data da foto desconhecida. Publicação: Rio de Janeiro, 25 de dezembro de 1976. Revista Manchete/ Hemeroteca Digital – Biblioteca Nacional, página 24 Edição 1288.
Abertura do programa de rádio “Bom dia, mesmo” de Omar Cardoso. Data desconhecida. Rádio Bandeirantes.
Capa do Jornal do Brasil de primeiro de janeiro de 1964. Rio de Janeiro, 01 de janeiro de 1964. Jornal do Brasil / Hemeroteca Digital – Biblioteca Nacional.
Recorte da capa do Jornal do Brasil de 1 de janeiro de 1964 – Detalhe para o registro errado da data que colocava “1 de janeiro de 1968”. Rio de Janeiro, 01 de janeiro de 1964. Jornal do Brasil / Hemeroteca Digital – Biblioteca Nacional.