Marinheiros saem do Sindicato dos Metalúrgicos e comemoram vitória do motim
27 de março de 1964
Danilo Araujo Marques
A ocupação dos marinheiros na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, iniciada em 25 de março de 1964, chegava ao seu terceiro dia em uma Sexta-Feira da Paixão. Naquela semana, o presidente João Goulart passava uma temporada em São Borja, sua terra natal no Rio Grande do Sul. Porém, após os marujos insistirem em desobedecer às ordens do ministro da Marinha, Sílvio Mota, e permanecerem no sindicato, Jango retornou às pressas para o Rio de Janeiro.
O presidente chegou logo na madrugada do dia 27 de março. Assim que tomou pé da situação, nomeou um novo ministro – o almirante Paulo Márcio Rodrigues, militar de esquerda e homem de confiança do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) –, e optou por uma medida que acirrou ainda mais os ânimos entre a oficialidade das Forças Armadas. Desmobilizada a ocupação logo no fim da manhã, os marinheiros não apenas foram enviados ao I Batalhão de Guardas do Exército para evitar qualquer retaliação da Marinha, mas, poucas horas depois, foram postos em liberdade e anistiados. Foi reconduzido ao posto o almirante Cândido Aragão – comandante preso dois dias antes por permitir a adesão das tropas de fuzileiros navais enviadas para desmobilizar o motim.
Eufóricos com o resultado da mobilização, os marinheiros marcharam pelo centro do Rio de Janeiro. Seguiram pela Avenida Rio Branco em direção à Igreja da Candelária. O clima era de celebração. Aos gritos de “Viva Jango” e “Viva o almirante Aragão”, a marujada passou em frente ao Ministério da Guerra. Das janelas do Palácio Duque de Caxias, a oficialidade assistia atônita à festa dos insubordinados – e viam tudo como uma provocação direta. A interpretação era uma só: o alto comando da Marinha havia sido publicamente desmoralizado pela quebra dos princípios de disciplina e hierarquia. E pior: sob aprovação direta do presidente da República. O Jornal do Brasil interpretou o episódio como a gota d’água de um processo revolucionário. Em editorial, afirmou que “o estado de direito submergiu no Brasil”. A saída pela intervenção militar parecia cada vez mais próxima.
Revista O Cruzeiro, 18 de abril de 1964, ed. 28. Fotógrafo desconhecido. Hemeroteca Digital / Fundação Biblioteca Nacional

