Álvaro Camara de Pádua

Durante a tarde, em uma reunião extraordinária que entrou pela noite, cerca de mil oficiais da Marinha reuniram-se no auditório do Clube Naval para marcar uma “sólida e enérgica reação […] à atitude do presidente da República”. Há pouco mais de 24 horas, João Goulart havia substituído o ministro da Marinha, Sílvio Mota, e anistiado os marinheiros amotinados na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, fatos que causaram a revolta da oficialidade marinheira.

O produto da agitada reunião foi um manifesto, que alegava um abalo nos fundamentos da Marinha como instituição militar. Afirmavam que “um ato de indisciplina, praticado por um grupo de militares, foi acobertado pela autoridade constituída, destruindo o princípio de hierarquia, fundamental em qualquer organização, principalmente militares”. 

No manifesto, os oficiais declaravam que, diferente do que os “agentes desagregadores” diziam, a Marinha não se dividia em classes ou castas e sim, trabalhava para “cumprir sua missão como um todo, com seu pessoal distribuído por postos e graduações, […] com fundamento na hierarquia”. Além disso, argumentavam que a Marinha era responsável por recrutar homens nas zonas subdesenvolvidas do Brasil e transformá-los em técnicos especializados, “úteis não só a ela [Marinha] como a eles mesmos e ao País”. 

Alertavam que o golpe sofrido pela Marinha representava uma ameaça às instituições do país, e que deveria servir de aviso à nação para se defender, enquanto estas estivessem “de pé” e os cidadãos fossem dignos de liberdade e da pátria. Ao final, os oficiais reforçavam que continuariam unidos e dispostos a resistir por todos os meios, que estivessem ao alcance da força, às tentativas de “comunização do país”. O recado de insubordinação ao governo João Goulart não podia ser mais explícito.