Anna Carolina Alves Viana
O anúncio das Reformas de Base feito por João Goulart no Comício da Central do Brasil, no dia 13 de março, ainda agitava o cenário político e social brasileiro quando Carlos Lacerda, governador da Guanabara, fez uma declaração polêmica acerca do então presidente: “Goulart está fora da lei”. A manchete estampava o meio da página 4 do Jornal do Brasil daquele dia. O motivo da afirmação era, segundo o governador da Guanabara, que Jango legislava por decretos e portarias, o que infringiria a lei, provocaria a nação e obrigaria o Exército a “montar guarda aos traidores da Pátria”.
Lacerda afirmava também que Jango havia recebido da Rússia a confirmação de apoio militar para se tornar ditador e, por essa razão, seria do desejo do presidente evitar que ocorressem eleições. Fez críticas diretas ao discurso de Jango no Comício da Central do Brasil, no qual havia afirmado ser lamentável que “parcelas ainda ponderáveis que tiveram acesso à instrução superior continuem insensíveis […] à realidade nacional” e que estas eram responsáveis “pelo sangue brasileiro que possa vir a ser derramado ao pretenderem levantar obstáculos ao progresso do Brasil”. Sobre isso, Lacerda rebateu e sustentou que Goulart “fala de sangue com a volubilidade de quem pensa não ter que derramar o próprio e sim o alheio, o sangue do povo para saciar a sua sede de poder”.
O momento era de animosidade crescente e os temores com a tão anunciada ‘ameaça comunista’ do governo Jango já estavam cristalizados. Manifestações contrárias à ordem vigente já estavam em curso, como ocorreu em São Paulo no próprio dia 19 com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Assim, a declaração de Lacerda colocou ainda mais lenha na fogueira das articulações golpistas.
