Igor B. Cardoso

“Oposição se arma contra o golpe”. Assim o Jornal do Brasil estampou na capa de 22 de janeiro a notícia de que milícias armadas se preparavam para agir contra uma possível revolução comunista.

Apesar do tom alarmista, a informação baseava-se, sem comprovações, nas declarações do deputado Olavo Bilac Pinto, presidente da União Democrática Nacional (UDN). Era o mesmo partido do governador Carlos Lacerda, ferrenho adversário de João Goulart, então presidente do Brasil pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

Bilac Pinto afirmara que, ao lado de grupos de “milícias antirrevolucionárias”, estava em formação uma liga democrática de cúpula, cuja direção caberia ao jurista Sobral Pinto. Ainda segundo o deputado, essa ofensiva era uma resposta a Goulart, que estaria armando os sindicatos operários, notadamente os da orla marítima e os camponeses, a fim de fechar o Congresso Nacional e instaurar o comunismo no Brasil com um golpe de Estado.

“Estudos realizados na Escola Superior de Guerra e nas Escolas do Estado-Maior, por oficiais superiores das nossas Forças Armadas, chegaram à conclusão de que, no Brasil, a guerra revolucionária está na terceira fase (…). Essa fase é precisamente em que se opera a obtenção de armas”, afirmou o deputado udenista ao JB.

Do outro lado, o Ministro da Justiça Abelardo Jurema declarou que a denúncia de Bilac Pinto era “literatura de folhetim, sem nenhum fato concreto e revelando até pobreza de imaginação, apegando-se a hipóteses já inteiramente desfeitas e anuladas pelo tempo.” O deputado Doutel de Andrade, líder do PTB na Câmara, afirmou que “é dever irrecusável do Sr. Bilac Pinto provar, com fatos concretos e não com palavras vazias, suas denúncias de que o Governo Federal está fornecendo armas aos sindicatos”.