Fuzileiros tomam a praia de Botafogo
03 de março de 1964
João Carlos Starling do Nascimento Passos
Para a surpresa dos banhistas que aproveitavam a manhã de sol na praia de Botafogo, fuzileiros navais da Marinha brasileira realizaram uma operação militar e ocuparam uma faixa de duzentos metros da orla. O número de invasores foi contestado e variou entre sessenta, cem e até quinhentos! O fato é que, equipados com fuzis, metralhadoras e morteiros, com suas roupas camufladas, militares desembarcaram de cinco lanchas e realizaram um exercício de combate simulado. Para a realização das práticas de infiltração e invasão, foram definidos pontos estratégicos de conquista, além de artilharia e bombardeamento simulados. Apesar da grande movimentação, nenhum tiro foi disparado. Comandada pelo 1º tenente Sérgio Vogel, a “invasão” também contou com a presença do comandante-geral, almirante Cândido Aragão, e do contra-almirante Washington Frazão Braga, comandante da Guarnição Central.
Presença ainda mais marcante foi da população civil, que, curiosa, rapidamente se juntou e lotou a região. A operação foi justificada como parte das celebrações do aniversário de 156 anos do Corpo de Fuzileiros Navais. De acordo com o tenente Vogel, a demonstração teria contemplado apenas uma parte do processo de invasão, a “fase de desembarque”, não contendo outras como, por exemplo, a “fase de amaciamento”. Pelo visto, o exercício se demonstrou um sucesso. Para o almirante Cândido Aragão, a “operação” teria sido o grande presente de aniversário dos seus comandados à Marinha. Na iminência do Golpe Militar, o episódio da praia de Botafogo ganha outros significados. Naquele começo de março, o fantasma do Golpe já circulava em alguns setores da sociedade. Mas estava longe de ser um temor ou uma expectativa generalizada. Tanto que a população, ainda não acostumada com a presença de militares nas ruas, assistiu curiosa a toda aquela movimentação. Naquele dia, os banhistas não faziam a menor ideia de que, dali a poucos dias, aquele tipo de demonstração de força militar se tornaria comum na paisagem do Rio.
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Banhistas aproveitam um dia de sol na praia de Botafogo apesar da placa que diz “Praia Interditada” – Fundo Correio da Manhã,1964. Arquivo Nacional
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População carioca aproveitando um dia de lazer na praia de Botafogo. Fundo Correio da Manhã, 1963. Arquivo Nacional
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Capa do jornal Diário Carioca relatando a “guerra” na Praia de Botafogo. Diário Carioca, 3 de Março de 1964. Biblioteca Nacional
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Artigo do jornal Última Hora sobre a “tomada” da praia de Botafogo. Última Hora, 3 de Março de 1964. Biblioteca Nacional