Lucas Garanbini

“Gorilas invadem o JB”. Essa foi uma das manchetes de capa do Jornal do Brasil no dia 1° de Abril de 1964. O texto, com ar de editorial, relatava que às 20h30 do dia anterior – quando o Golpe Militar foi deflagrado – havia, na porta do jornal, de metralhadora em punho, um fuzileiro naval. 

E quem olhasse pelos vidros dos estúdios da Rádio Jornal do Brasil, “teria a impressão de assistir a um filme de gangsters“. Ali estavam outros 4 fuzileiros, comandados por um Tenente Arinos, e que se “movimentavam tolhidos por suas metralhadoras” entre os funcionários e as parafernálias comuns a um estúdio de rádio. 

Luiz Orlando Carneiro, chefe de reportagem do JB, indagou de quem era a ordem da invasão, e obteve a resposta do Tenente: –  do Ministro da Marinha! Carneiro retrucou:  – onde estava a ordem (por escrito)? O tenente respondeu: – a ordem era verbal! 

Em seguida, usando um dos telefones da redação, o militar telefonou a um Almirante e, sem se referir ao nome do superior, disse que o prédio era muito grande e que precisavam de reforços para a ocupação. Imediatamente, a guarnição deixou três fuzileiros de guarda e foi buscar ajuda. Dentro de meia hora, no lugar dos reforços, o que chegou foi a ordem de retirada. 

A notícia-editorial continuava: “quem humilha assim os bravos Fuzileiros Navais? Quem os transforma em gangsters e os faz evacuar em seguida, envergonhados?” O último parágrafo era um recado direto ao presidente em vias de ser deposto: “o sr. João Goulart tem injuriado muitos, em muito pouco tempo. Agora, ao que tudo indica, não lhe resta tempo para injuriar quem quer que seja”.