Empresários se reúnem no Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES)
1964
Nayara Henriques
Uma das sedes do golpe foi o Edifício Avenida Central. Localizado na Avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, o prédio era o endereço do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES). O IPES era formado pela elite empresarial brasileira e também por oficiais da Escola Superior de Guerra (ESG). O objetivo público da sua fundação era a “realização de estudos voltados para a realidade brasileira”. Mas havia muito mais por trás das janelas do 27º andar.
Financiado por empresas nacionais e multinacionais, o IPES desenvolveu uma ampla rede de propaganda ideológica, utilizando filmes, panfletos, livros e eventos públicos para disseminar uma retórica fortemente anticomunista e contrária às reformas propostas pelo governo de João Goulart. Essa narrativa visava mobilizar diversos setores da sociedade, como empresários, líderes políticos e até grupos religiosos, contra o governo que consideravam uma ameaça à ordem econômica e social.
Estruturalmente, o IPES era altamente organizado, com comitês dedicados ao planejamento estratégico, levantamento de informações e formulação de diretrizes políticas e econômicas. Contava com apoio logístico, incluindo sistemas de comunicação avançados para a época, financiamento externo e uma rede de aliados influentes no setor empresarial e nas Forças Armadas. Essa estrutura possibilitou não apenas a articulação do golpe, mas também a manutenção de sua agenda após a queda de João Goulart.
Entre suas ações mais emblemáticas, destacam- se a campanha de desestabilização política e a criação do Serviço Nacional de Informações (SNI), liderado pelo general Golbery do Couto e Silva, um dos principais estrategistas do IPES. O Instituto também foi crucial para a formação de alianças com entidades como o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), a Ação Democrática Popular (ADEP) e a PROMOTION (Incrementadora de Vendas Promotion S/A) que canalizaram recursos financeiros e logísticos para apoiar candidatos anticomunistas e iniciativas golpistas. Sua estratégia incluiu o financiamento de campanhas de propaganda altamente eficientes, que recorriam a apelos emocionais e retórica alarmista para convencer diversos setores da sociedade sobre os supostos riscos representados pelo governo de Jango. Dessa forma, o Instituto não apenas fomentou a oposição a João Goulart, como também legitimou, perante parcelas da opinião pública, a necessidade de sua destituição.
O IPES não apenas planejou o golpe. Também estruturou a agenda política do regime militar que se seguiu. Sua atuação estendeu-se à definição de políticas econômicas, controle de órgãos governamentais e articulação com o empresariado internacional. Assim, o Instituto consolidou-se como um modelo pioneiro de articulação entre elites econômicas e militares, moldando o futuro político e econômico do Brasil em benefício de seus apoiadores.
Reunião de empresários na sede do IPES paulista. São Paulo, data desconhecida. Fotógrafo desconhecido. Revista Fortune, setembro 1964.



