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Deputado Leonel Brizola no palanque do Comício das Reformas

13 de março de 1964

Danilo Araujo Marques 

Na noite daquela sexta-feira, 13 de março de 1964, a praça da Central do Brasil estava tomada por uma multidão estimada em 200 mil pessoas. Iniciado às 18h, o Comício das Reformas atingia o ponto mais aguardado com a chegada do presidente Jango ao palanque às 19h45. Entre o mar de faixas, uma em particular se destacava: “Brizola 65”.

Leonel Brizola subiu ao palanque por volta das 20h. Sua presença causou o maior rebuliço. Para surpresa de muitos, Jango e Brizola se cumprimentaram com um longo abraço. O gesto público de afeto entre os cunhados chamou atenção, pois circulavam rumores de desentendimentos entre ambos.

O deputado do PTB iniciou seu discurso com uma revelação surpreendente: sua participação no ato público havia sido contestada. Mas estava ali para se afirmar como representante do “povo que reagira com armas nas mãos em 1961”, em referência à Campanha da Legalidade. 

Por quase 20 minutos, Brizola inflamou a multidão com palavras que oscilavam entre elogios e críticas ao governo Goulart. O radicalismo do gaúcho ficou evidente quando ele defendeu o fim da “política de conciliação” do presidente para, em seguida, emendar a proposta mais polêmica da noite: o fechamento do Congresso Nacional e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

“O Congresso não dará mais nada ao povo brasileiro”, declarou, sugerindo que o novo parlamento deveria ser composto por “operários, camponeses, oficiais militares nacionalistas e sargentos”. A reação foi imediata. Tanto que os ministros Oliveira Brito e Expedito Machado decidiram abandonar o palanque. Mas Brizola não recuou e desafiou seus críticos a resolverem a questão através de um plebiscito.

Em um gesto teatral, Brizola pediu que a multidão levantasse os braços em apoio a um “governo popular e nacionalista”. Milhares de mãos se ergueram. Mas o que chamou a atenção mesmo foi o brilho metálico visto na cintura do deputado: uma Taurus 38.

Mais do que uma medida de segurança, a presença da arma parecia uma mensagem. Brizola encerrou seu discurso com uma advertência enérgica: “O nosso caminho é pacífico, mas saberemos responder à violência com violência”. Dita por um homem armado em um palanque político, a frase ecoou como um presságio dos conflitos que se aproximavam.

Ao descer do palanque, Brizola deixou para trás uma multidão energizada e um ambiente político fraturado. Seu discurso seria lembrado como um dos momentos mais graves daquela noite. E a imagem do deputado com um revólver à mostra tornava-se a síntese da tensão que pairava sobre o Brasil naquele março de 1964.

Rio de Janeiro, 13 de março de 1964. Fotógrafo desconhecido. Fundo Correio da Manhã / Arquivo Nacional

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