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De repente “Marcha da Vitória”

02 de abril de 1964

Danilo Araujo Marques

Qualquer pessoa que abrisse um jornal de grande circulação no estado da Guanabara em março de 1964 teria grandes chances de ler a seguinte chamada: “Mulher carioca, mãe carioca, esposa carioca, irmã carioca. Vamos para as ruas antes que os inimigos cheguem aos nossos templos e igrejas!”. O anúncio servia como convocação para a Marcha da Família com Deus pela Liberdade: uma procissão com jeito de passeata e manifestação política contra o governo João Goulart, organizada por associações femininas conservadoras e católicas, como a Campanha da Mulher Democrática (CAMDE).

O plano era dar seguimento às Marchas da Família que haviam começado no dia 19 de março em São Paulo e que vinham acontecendo em diferentes cidades do país. A edição do Rio tinha data, local, hora e trajeto marcados: quinta-feira, 2 de abril, às 16 horas, saindo da praça da Igreja da Candelária rumo à Esplanada do Castelo. “Venha conosco. Marche conosco ao lado de Deus e do espírito dos nossos heróis da liberdade!”, concluía o anúncio-convite.

Só que, entre a organização e a realização da passeata, muita coisa aconteceu: um levante militar adiantou o relógio do golpe e aumentou a fervura da crise política; o presidente João Goulart deixou o Rio de Janeiro e partiu para Porto Alegre; e, em Brasília, o senador Auro de Moura Andrade convocou uma sessão mista do Congresso Nacional para declarar vaga a Presidência da República e garantir a posse interina do então presidente da Câmara, deputado Ranieri Mazilli.

Foi assim que a multidão de mais de 800 mil pessoas que se espremeu na Avenida Rio Branco naquela tarde de quinta-feira não compareceu apenas para acompanhar a edição carioca da Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Estavam ali para comemorar a queda do presidente João Goulart em uma passeata que, da noite para o dia, passou a ser chamada de “Marcha da Vitória”. Nos dias seguintes, as fotos publicadas em jornais e revistas exibiram o consenso formado por uma parcela significativa da sociedade civil que foi às ruas para manifestar apoio ao golpe de Estado.

Marcha da Família com Deus Pela Liberdade. Rio de Janeiro, 2 de abril de 1964. Revista Manchete (Edição Histórica). Acervo: Hemeroteca Digital/Fundação Biblioteca Nacional.

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