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Cruzada do Rosário em Família

1963

Isabella Souza

Na primeira metade da década de 1960, uma movimentação de caráter político e religioso se espalhou pelo Brasil: eram as Cruzadas do Rosário em Família. Organizadas pelo Padre Patrick Peyton – um sacerdote irlandês conhecido como o “Padre do Rosário” e fundador da Associação do Rosário em Família –, essas campanhas congregavam multidões de fiéis e figuras públicas para a reza conjunta do terço. Como gostavam de afirmar, “família que reza unida permanece unida”.

Influenciadas pelo contexto da Guerra Fria, as cruzadas adquiriram um forte teor anticomunista em todos os lugares por onde passavam. Em razão das frequentes associações entre posicionamentos do presidente João Goulart e a propaganda comunista, essas manifestações logo se tornaram abertamente contrárias ao governo. As primeiras cruzadas no Brasil ocorreram em 1962, em Recife e no Rio de Janeiro. Mas, rapidamente, o movimento se espalhou e levou milhares de pessoas às ruas de Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre e São Paulo. Tamanha foi a comoção para a realização das cruzadas, que até mesmo agendas públicas e esportivas sofreram alterações e pontos facultativos foram decretados durante a realização dos eventos.

Para dar cabo de suas atividades, as campanhas do Padre Peyton contavam com o aval de instituições como a Central Intelligence Agency (CIA) e com o financiamento de empresários norte-americanos. O discurso das cruzadas apresentava o rosário como uma arma dos cristãos contra o comunismo, entendido como uma ideologia ateia e destruidora dos valores tradicionais da família. Portanto, a realização da oração tomava a forma de um combate cívico, que visava proteger o país da suposta ameaça.

Desse modo, as cruzadas consolidaram-se como uma plataforma de mobilização política conservadora. O uso ideológico de seu maior emblema, o rosário de Nossa Senhora, transformou-o num símbolo da resistência anticomunista. Organizações femininas envolvidas na oposição a João Goulart – como a Campanha da Mulher Democrata (CAMDE) e a Liga da Mulher Democrática (LIMDE) – fizeram largo uso dos rosários em suas bandeiras, eventos e manifestações políticas. Além, é claro, de recorrer ao poder mobilizador da oratória católica para fortalecer sua posição frente à convulsão política que tomava o Brasil.

Revista Nosso século: 1960/1980 tempos de populismo e agitação. Fundo João Goulart / Arquivo Nacional

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