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Comício das Reformas de Base na Central do Brasil

13 de março de 1964

Danilo Araujo Marques 

A praça da Central do Brasil, no centro do Rio de Janeiro, se transformou em epicentro da política nacional na tarde daquela sexta-feira, 13 de março de 1964. Uma imensa faixa com o retrato do presidente João Goulart pendia do edifício da estação e dominava a paisagem urbana. Mais um dos muitos sinais que anunciavam o Comício das Reformas, um ato público que prometia reunir caravanas populares provenientes de todos os cantos do Brasil.

Apesar da expectativa, o cenário, no entanto, estava longe de ser tranquilo. Nos bastidores, uma intensa batalha política se desenrolava. Conhecido por sua estridente oposição a Jango, o governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, fez o que estava ao seu alcance para esvaziar a mobilização: decretou ponto facultativo para o funcionalismo público e suspendeu os prazos contratuais das empreiteiras que trabalhavam para o estado. A justificativa era mordaz: segundo ele, a Central do Brasil ficaria “entregue aos promotores da desordem, cujo agente direto é o deputado Hércules Corrêa e cujo orador oficial é o presidente da República”. 

A escolha do local para o comício não havia sido por acaso. Realizar um evento dessa magnitude no centro da cidade do Rio significava demonstrar a força do governo federal, com uma forte possibilidade de reverberação nacional. Mas toda esta ousadia política tinha lá seu preço: a necessidade de um esquema de segurança sem precedentes. E, para preservar a integridade do presidente e das demais autoridades presentes, um impressionante aparato foi mobilizado: nove carros de combate e três tanques cercaram a Praça Duque de Caxias, enquanto seis metralhadoras foram instaladas no Panteão de Caxias. No interior do Ministério da Guerra, localizado em frente à praça, uma tropa do Batalhão de Guardas permanecia em alerta, pronta para intervir ao menor sinal de perturbação.

Era evidente que havia uma confiança meio difusa na lealdade do chamado “dispositivo militar” para garantir a ordem e a segurança física de João Goulart. Sob o comando do general Moraes Âncora, comandante do I Exército, tropas da Polícia do Exército foram estrategicamente posicionadas. Os Dragões da Independência, o Batalhão de Guardas e o 1º Batalhão de Carros de Combate foram algumas das unidades que também formaram um cordão de segurança ao redor da praça. Figura respeitada na hierarquia militar, a presença do general Âncora transmitia a mensagem de que o Exército se comprometia com a segurança do evento – e, por tabela, com a estabilidade do governo Jango. Mas a presença ostensiva dos “milicos” gerava uma atmosfera paradoxal: por um lado, assegurava a sensação de segurança do ato; por outro, evidenciava a beligerância da situação política do país.

Enquanto a tarde avançava e a multidão crescia, a confiança na garantia do dispositivo militar ficava mais palpável entre os organizadores. Faixas e cartazes – com dizeres que inclusive tiravam sarro dos militares “gorilas” – se misturavam à massa de pessoas que lotava as imediações da Avenida Presidente Vargas. O comício ainda nem havia começado, mas já dava para perceber que aquela sexta-feira 13 seria um dia decisivo – um prelúdio dos eventos que se desenrolariam nas semanas seguintes.

Comício da Central do Brasil. Rio de Janeiro, 13 de março de 1964. Fotógrafo desconhecido. Fundo Correio da Manhã / Arquivo Nacional

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