Casa da Tia Ciata
Tia Ciata,
Que era bamba pra valer,
Não desprezava um pagode
Antes do dia amanhecer
Trecho do samba-enredo “Praça Onze, carioca da Gema” – Acadêmicos do Salgueiro, 1970
Tia Ciata e Tia Carmen do Xibuca (Carmen Teresa da Conceição) fazem parte do grupo que, no início do século XX, sai da região portuária e vai morar e se reunir em outro local de residência e reunião de descendentes de africanos: a Praça Onze. Ali na Praça e em seus arredores, em casas das tias, ocorriam encontros de músicos e instrumentistas. João da Baiana, Donga, Sinhô e Pixinguinha, além de outros baluartes do samba carioca circulavam por esta ampla região — nomeada por Heitor dos Prazeres como uma “África em miniatura” nos anos 1920 — que ia da zona portuária até as encostas do Morro do São Carlos.
Tia Ciata fazia reuniões em que se reuniam esses grandes músicos que deram origem ao samba carioca. Era lá também que muitas vezes se abrigavam negros recém-chegados de outras regiões do Brasil. Na Pequena África surgiram os primeiros ranchos carnavalescos no século XIX e, no século XX, as escolas de samba. Entre as tias também sobressai a figura de Perciliana Maria Constança, mãe do famoso João da Baiana — instrumentista, passista e compositor nascido no Rio de Janeiro. Conhecido como o introdutor do pandeiro no samba, circulava por aqueles espaços juntamente com outros artistas populares, chegando, na década de 1920, a gravar programas de rádio.
Lugar de chegada, abrigo, encontro e criação: as casas das tias, os terreiros e as esquinas da Pequena África foram os espaços de resistência e de criação da cultura negra carioca. Mais tarde, as obras e demolições na região, para a expansão do espaço urbano, fizeram com que essas pessoas a migrar para outras regiões da cidade, carregando a força da tradição de matriz africana.
A Pequena África também é um espaço de luta. Por essa razão, seu significado é assinalado pela estátua que representa Zumbi dos Palmares — herói negro na luta contra a escravidão no Brasil —, monumento urbano que fica bem ao lado da Praça Onze.
Na foto, a rua Visconde de Itaúna, um dos endereços onde Tia Ciata residiu. A rua e o casario desapareceram com a abertura da Avenida Presidente Vargas. Atualmente, na Rua Camerino, nº 05, funciona a sede da Organização dos Remanescentes da Tia Ciata (ORTC) e um espaço cultural para manter viva a memória da Matriarca do samba.
Casa da Tia Ciata.



